sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Melô de Alex Alves

Vai, mizera! Vai, mizera!
(Tum - tsh) - Ele é liso

Vai, mizera! Vai, mizera!
(Tum - tsh) - Ele é solto

Vai, mizera! Vai, mizera!
Vai, mizera! Vai, mizera!
Vai, mizera! Vai, mizera!

(Tum - tsh) - Alex Alves

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

What this is not

Dear friends,

This is not a Christmas message. I am just taking this opportunity to ratify how important all of you are for me. Since this is not a happy new year message too, because I wish you happiness every day, even when I don´t remember you explicitly, this message has nothing to do with our callendar. However, I should confess that this moment is very special to me and maybe I was not able to focus on this message in another period of the year, so that I´m the only one among us who is supposed to consider that it´s Christmas and the new year is about to come. Then I just would like you forgave me for such a limit and accepted my sincere votes of happiness, peace in the heart, health and success from this moment until your last breath.


And thank you for the friendship you offer me, no matter how often neither how intense. It´s more than enough.

A Granada

Eu estava deitado num canto da sala quando vi uma granada entrar pela janela. Numa sala em forma de "L", eu estava justamente na porção horizontal, e a janela, no vértice. Via-me correndo para a sala-de-jantar e passando por sobre a granada; jogava-me atrás do sofá e ela explodia ao meu salto, lançando-me longe. Imaginei somente a explosão, sem pensar nos estilhaços que decerto muito me feririam. Pensei no barulho, na destruição à edificação, na grande possibilidade de não sair ileso, da queda no chão, da onda de choque.


Pensei em ficar imóvel e desejar que a granada não explodisse; a julgar o que faz a fé com a montanha, pareceu-me uma saída possível. A granada é um artefato poderoso contra um homem desprevenido, deitado num canto da sala.


Olhei mais uma vez na direção da janela, e antes que acontecesse, levantei-me e fechei-a.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sigamos Juntos

Não é tarefa fácil manter contacto contigo porque tens tanto a oferecer que a manutenção da correspondência requer conteúdo sólido de minha parte. Torna-se ainda mais difícil, uma vez que preciso escrever e, em certa medida, pensar em outra língua na qual não tenho proficiência, embora não esteja tão mal . Tentando encontrar uma solução de equilíbrio entre escrever-te o quanto mo faz querer e ir já deitar-me de tão sonolento, achei justo para ambos nós compartilharmos algumas ideias comuns ou convergentes.


Eu compreendo Deus como a energia primordial do Universo e, asseguro-te, está completamente fora de questão o convencimento a outrem de minha crença pela compreensão de que as questões de fé são da esfera da experiência de cada um, e qualquer discurso sobre a existência de Deus, Sua natureza ou o que quer que seja a Seu respeito (sem considerações de gênero, por enquanto) é vão. Jesus disse "Ninguém vem ao Pai senão por mim" e "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Isso introduz a seguinte história. Há alguns anos, minha mãe presenteara-me com um livro intitulado "O Livro de Ouro de Saint Germain", onde ele, Saint Germain, dito "Mestre Ascencionado", da mesma ordem que Jesus Cristo, Buda e outros espíritos de luz, trata sobre a "energia Eu Sou". As sentenças mais fortes proferidas por Jesus começam com "Eu Sou". Saint Germain sempre enfatiza que a "energia Eu Sou" é a força divina atuante em nós. Eu li esse livro e iniciei um processo de espiritualização, do qual um dos objetivos era saber: "para que vivo?"


Dize-me, sabes tu para que vives? tua missão nesta vida, desconsiderando que possa haver outra vida? De fato: esta resposta não resulta da busca intelectual, mas duma revelação. Essa busca, isto sim, é um passo, mas de natureza acessória. Penso que terás resposta sempre que perguntares ao Universo, e tudo o que precisas é seres atenciosa e formulares a questão corretamente.


Sem mais para o momento, certo de tua resposta, despeço-me. Sigamos juntos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Verdadeira História da Árvore de Natal

No tempo de Jesus não havia árvores de Natal como as de hoje, esses pinheiros de plástico à venda em lojas e bancas de mascates. Havia mascates, decerto, mas vendiam outros produtos de maior apelo. (Não devia nem haver pinheiros.)

Quando os Reis Magos chegaram à caverna onde estavam José e Maria, encontraram tudo desarrumado, pois Maria, parturiente, não tivera como preparar a caverna para a festa por acontecer. Assim, além dos presentes que trouxeram consigo, os Reis Magos trataram de decorar o ambiente.


Baltazar - parece - foi do lado de fora e pegou uma muda de cacto, onde colou chumaços de algodão para representar a neve; Gaspar e Belchior cuidaram dos outros enfeites. Baltazar encontrou ainda coisas que refletiam a luz do fogo, brilhavam, luziam, enfeitando ainda mais o cacto.


Enquanto Maria dava a luz ao menino Jesus, os Reis Magos assistiam e celebravam, com a caverna toda enfeitada, o que seria conhecido como primeiro Natal da História, tendo sido o cacto a primeira árvore de Natal de que se tem notícia.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Do Colégio Naval



Chegava ao Colégio Naval pela primeira vez para uma aula. Não sabia de que matéria, mas a sinalização nos corredores indicava facilmente a sala. Era fácil chegar a ela, até mesmo por não haver muitas opções de destino entre os caminhos de acesso livre.

Era uma aula de Eletricidade. O professor, um oficial de voz firme e grave e um ar de severidade incomum aos civis, proferia a aula sentado à sua mesa, com todos os alunos em postura erecta, inabalável. Falava sobre redes de distribuição de energia, transformadores e outras máquinas elétricas. Era um capitão-tenente, pardo e de traços angulosos. Ao fim da aula, foram todos embora.

Passado algum tempo, retornara ao Colégio, desta vez acompanhado por um amigo. Na entrada, estava sentado um tenente, como quem espera por alguém. Trocaram algumas palavras quando chegou um segundo, este à paisana. Falavam do professor e o segundo adentrou a conversa dizendo-o conhecido seu de outros períodos, "um homem realmente duro". O tenente que esperava assim permaneceu, os outros desceram as escadas em direção ao pátio. O segundo, então, perguntou aos rapazes donde o conheciam. Responderam que foram aprovados na primeira fase do concurso e, por isso, tiveram aulas; no entanto, era como se aquela ida ao Colégio Naval não decorresse da aprovação no concurso, fato de um passado recente e superado, mas fosse uma experiência de outra natureza. Talvez não fosse.

Desceram as escadas e chegaram ao pátio. De repente, estavam fardados. Entraram na mesma sala para aula com o mesmo professor, que parecia muito mais simpático, como se falasse a seus pares em vez de a subalternos. Entendeu, enfim, porque a severidade do primeiro contacto, guardou para si; fechou os olhos. Escureceu.

domingo, 12 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Perda da Visão



Numa sociedade futurista e tecnocrática, uma bactéria que provoca cegueira se alastra e contamina boa parte da população. Uma única mulher, por sua vez, consegue um antídoto que lhe restitui a visão, mas causa surdez. O remédio, contudo, tem efeito temporário e, como lhe informa o médico, causa cegueira após sua atuação.

Assim, sabendo que há de ficar cega, a mulher começa a fazer as suas atividades, viver o seu quotidiano, com os olhos vendados, numa espécie de preparação para a cegueira que se aproxima quando findo o efeito temporário do antídoto. Ela anota suas experiências num diário sob o título de "Ensaio Sobre a Perda da Visão". Diferente de outras histórias, a forma de contágio por aquela bactéria não se dá pelo contato com pessoas infectadas, de modo que qualquer medida de isolamento daquelas é inteiramente inócua.

O tempo passa e o Estado descobre um antídoto sem efeitos colaterais, cuja aplicação nas pessoas infectadas tem ampla divulgação por rádio, mas não televisão nem imprensa escrita, uma vez que as pessoas todas - exceto a mulher - ficaram cegas, sem poder ler nem ver TV; e as que não foram infectadas não constituem um grupo interessado na medida, de modo a não fazerem parte do público-alvo da maciça campanha publicitária estatal.

No dia da aplicação da vacina, a mulher surda viaja para o campo e não toma conhecimento sobre a atuação do Estado. Não que a vacina a fosse curá-la, mas como não há qualquer registro sobre sua situação, o Estado não se ocupa do seu problema. Era também era o prazo de validade da vacina anterior que lhe restituíra a visão e causara-lhe surdez. Assim, a mulher permanece surda e se torna cega, enquanto todo o resto da população volta a enxergar normalmente.

O seu diário é descoberto e publicado sob o título Ensaio Sobre a Visão Latente, ganhando uma adaptação para o cinema, contemplada com o prêmio de melhor roteiro adaptado na Academia de Cinema de Hollywood. Um escritor português se interessa e transforma a história em romance de grande sucesso, intitulado Ensaio Sobre a Cegueira, sensibilizando inclusive a comissão que julga os trabalhos concorrentes ao Prêmio Nobel de Literatura. Por não se tratar dum trabalho original, ele não consegue lograr aquela premiação.

A mulher, que já era surda, fica cega, mas enriquece com os direitos autorais de sua história. O livro se torna best-seller depois do sucesso de bilheteria do filme. Alheia a tudo, a mulher segue sua vida, cega e surda e rica. O escritor português deslancha sua carreira e ganha o Prêmio Nobel de Literatura pelo livro Ensaio Sobre o Evangelho, a partir do qual ele dedica uma série de obras ao tema "Ensaio" (Sobre o Segundo, Sobre Jesus Cristo, Sobre Todos os Nomes, Sobre o Cerco de Lisboa, etc).

Enfim, foi assim. No detalhe, veja a mulher ensaiando.

sábado, 4 de outubro de 2008

Uma Grande Perca

Eles cresceram em meio à pobreza e rapidamente adentraram a criminalidade. Matar era banal, fazia parte do negócio. Mataram muitas pessoas, entre outros crimes.

Um dia, cansado daquilo tudo, Lázaro Ramos decide e brada aos comparsas:
- Chega desse negócio de preto matando gente! A gente agora é cidadão, rebãe!

Nem todos se sensibilizaram, vindo a morrer também em pouco tempo, todos. Os que o seguiram, entraram no supletivo para completarem ou mesmo começarem os estudos. Ele consegui um emprego e seguiu estudando até passar num vestibular. Trabalhava na Di Santini de dia estudava Ciências Contábeis à noite, numa faculdade particular.

No dia da sua festa de formatura na Blue House, porém, ele foi atropelado por um filhinho-de-papai e morreu no local enquanto todo mundo o esperava. O motorista fugiu sem prestar socorro, mas populares que testemunharam o ocorrido informaram a placa do carro à polícia, que saiu em diligência até encontrar e dar voz de prisão a Wagner Moura, que conversava com amigos e tomava cerveja num posto de gasolina no Itaigara.

No enterro, era grande a tristeza. As palavras se repetiam.
-Valeu, véi. Você foi uma grande perca pra gente - dizia um.
- Essa perca é demais. Quem vai lhe substituir no baba? - perguntava outro.
- Você não merecia essa perca - lamentava a tia de Feira de Santana.
- Essa perca foi demais!
- É uma perca inestimave...
- Esse cara é uma perca que aborrota o coração do peão...
- É a perca maior que o cara tem é a perca de camarado...
Sua mãe era quem mais sofria. No sepultamento, chorando muito, disse:
- Você é tudo que representa pra mim. Eu não vou agüentar essa perca.


Depois do funeral, todos desceram para a Baixa de Quintas e seguiram para o mesmo ponto-de-ônibus. Todos pegaram "Lapa", lotando quatro ônibus seguidos.

Esta é só mais uma história de "uma grande perca".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Nome do Meu Filho

Será Jônatas, escrito assim. Jônatas ainda não há nascido, mas fora já concebido em sua idéia, de forma a estar pronto quando dado à luz. Não será necessariamente meu descendente direto, podendo assim vir a ser filho adotivo, o que é positivo para ambos nós.

Jônatas será bem-criado e quisto por onde passar. Há de crescer em meio a crianças judias e será um judeu legítimo. No seio do judaísmo, terá uma esposa judia, dando-me uma neta ruivinha e sardenta tão logo se case. Se, contudo, preferir uma relação homoafetiva, também não será problema, porque judaísmo aceita tal união. Ademais, não será médico nem advogado, comerciante, agiota, sanitarista; não professará o que não houver aprendido nem dirá outras coisas em vão.

E, salvo melhor juízo, este é o seu parecer, filho?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sobre Una Nova




Numa sala-de-aula, a estudante propõe uma mudança no mapa mundi para criar o país de Una Nova. Una Nova fica no que compreende a África Ocidental, onde estão Marrocos, Nigéria, Senegal, Guiné; é a porção que aponta para o Atlântico, a direção do Novo Mundo. A fronteira de Una Nova com o resto do continente é uma linha interrompida, mas com o ponto no mesmo nível do traço.

Una Nova, de "uno"- que é um só, único, singular ( eu uso muito essa palavra), "nova" - 1. Que existe há pouco tempo. 2. Que tem pouco uso. 3. Moço, jovem. 4. Moderno. 5. Original, diferente, estranho. 6. Visto ou ouvido pela primeira vez. 7. Inexperiente. 8. Emendado, reformado. S. m. O que é recente. S. m. pl. Os jovens; a gente nova. Una-nova-vida latente porque precisa chegar ao Novo Mundo para se manifestar e se realizar. Una nova está pronta, mas precisa transpor um oceano de obstáculo.

A nova África é descontínua e compõe-se de duas grandes ilhas separadas por um canal, mais ou menos horizontal, que liga os Oceanos Índico e Atlântico; são mares de tempo, fluindo inexoravelmente, através do presente, do passado para o futuro, analogamente ao nosso tempo ordinário, conectando o velho ao novo, sendo este, o presente, imediato.

Una Nova está pronta, mas precisa transpor um oceano de obstáculo. Trace sobre o mapa as fronteiras de Una Nova e descubra-se o ser da Nova África. Una. Vós, no mundo, sois África, p´ra vosso bem entender.

Para meu entender, o efebo é todo África. Para que entender?

Entre outras posses, nossa pátria é Una Nova. Una. Nova. Sobre vossa África tracejai vossa Una, e que seja Nova. Tracejai.

domingo, 7 de setembro de 2008

A Metafórica história de uma rosa



A Metafórica história de uma rosa

Os espinhos da rosa tornaram-se sangue.
E a rosa viu sua maldade
E brotou com ar maldoso
E sentiu medo da morte .
Mas viveu.
E sobreviveu ao corte de suas pétalas,
E continuou presa a seus espinhos.
Se o mundo tá sempre acabando,
Poderia evitar o meu fim?
Essa é a minha metáfora,disse a rosa
Com sangue nos olhos, verdes de tristeza;
Eu descobri a minha beleza!
E um dia alguém me disse:
Seu colorido é psicodélico
E seus espinhos; seu arsenal bélico,
São mais fortes que canhões.
Só irei até aqui,
Não me pergunte por quê
Porque eu morri!


FRED
24/12/89

Nota: O poema acima data realmente de 24 de dezembro de 1989 e fora-me enviado por Dna. Assunção, mãe de minha amiga Annelise, que o vem guardando por quase 20 anos. A Dna. Assunção, meus muitos e efusivos agradecimentos. A foto é de janeiro ou fevereiro de 2000.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Por Onde Anda Vanessa?

Sete de Abril, um lugar. As crianças brincavam à volta da casa, suas mães conversavam. Havia um coqueiro e o chão batido, sem grama nem piso calçado. Uma casa, um coqueiro, uma terra: era assim o lugar.

As crianças brincavam de coisas imaginárias, diziam um texto inventado na hora, tudo à volta da casa. Era uma tarde em Sete de Abril, um lugar.

As crianças tinham cada uma sua cadeira, que fazia parte da brincadeira. As crianças brincavam com suas cadeiras e diziam coisas inventadas na hora, à volta da casa. A brincadeira é uma ideia.

As crianças brincavam à volta da casa, cujos fundos eram mais frescos por causa da sombra. Era uma tarde quente em Sete de Abril e a ideia era brincar na sombra, sempre fresco e longe da vista. Ser longe da vista passa ao largo da fresca na sombra numa tarde quente de Sete de Abril, um lugar.

As crianças brincavam e a ideia era ir para o fundo da casa. Mais o texto inventado na hora, quiseram também se abraçar. Inventaram um ordem, das mãos ao abraço, e tocaram suas testas. Sorriram. Nessa hora, só importava sorrir e abraçar.

Com as testas tocadas e oblíquas, sorriam as duas crianças. O tempo passava, mas nem parecia que Sete de Abril, um lugar, existia naquela e em todas as horas.

As crianças findaram o abraço e o tempo tornou a passar. E de tanto passar, aquelas crianças, há muito, nem mais se lembravam que um dia viveram essa hora, que o tempo passava que nem parecia, naquele lugar. Eram Frederico e Vanessa. Frederico está aqui. Por onde anda Vanessa?

sábado, 30 de agosto de 2008

Relatos Porteños III

1º de maio de 2007.


Enfim, era 1º de maio e eu estava ávido por congratular-me com nuestros hermanos en las comemoraciones por el dia del trabajo. A intenção foi boa, mas faltou planejamento. Saí no meio da manhã e fui até a Plaza de Mayo, passando antes pela Plaza Congresso. Era por volta de 10 horas e ainda não havia qualquer sinal de manifestantes; a Casa Rosada, porém, já estava toda cercada. Entrei na Catedral e visitei alguns altares. Templos católicos, com certa freqüência, trazem-me lágrimas aos olhos, não sei por quê; ajoelhei-me no de Nossa Senhora da Paz e rezei o Pai Nosso três ou quatro vezes. Tornei à tranqüilidade de outrora e resolvi voltar ao hotel.

Saí da igreja e tomei novamente a Av. de Mayo, onde fica o Café Tortoni, que está para Buenos Aires como a Confeitaria Colombo para o Rio de Janeiro. Pedi um café doble (um espresso duplo) e um churro, que é servido sem recheio num prato com açúcar e canela. Findo o churro, pedi um brownie. Confesso, faltou pedir um alfajor, guloseima típica argentina; fá-lo-ia houvesse entendido a explicação do mozo (garçom): fica para um próxima vez. Havia muitos brasileiros, como em qualquer lugar turístico de Buenos Aires. Permaneci por um tempo longo enquanto observava as pessoas e aproveitei para escrever o diário de ante-ontem (este é o de ontem). Sendo o suficiente para apreciar tudo que me aprouvesse tomei novamente o caminho do hotel.

Tomei um banho, vesti-me e saí para ir a Palermo, onde há o Zoo e vários parques. Logo que saí do subte, na estação Plaza Itália, fui surpreendido por um toró que me fez esperar bem uma meia-hora num abrigo de ônibus, por sinal, igualzinho a estes daqui (de "Os Designers - As Capitais": pois Buenos Aires é uma delas). Estiada a chuva, andei até o Parque 3 de Febrero, com área para futebol, ciclismo, caminhada, etc: muito aprazível. Mas, com tanta chuva, havia pouca gente. Pedi ajuda a um casal para que me indicasse a Av. Santa Fé. Quando disse ser brasileiro eles sorriram mui simpática e acolhedoramente. O senhor, que tomou a frente na explicação, ensinou-me com muito cuidado. Para sair dali e chegar à Av. Santa Fé, eu precisava virar para o lado "derecho" (eu ri disso depois). Saí do parque, passei em frente a um centro islâmico e a um quartel do exército até chegar à Av. Santa Fé, onde há vários bares e restaurantes populares. Parei num deles e tomei uma cerveja pilsen chamada Imperial e comi duas empanadas de carne e prossegui rumo a Palermo Viejo.

Palermo é um bairro residencial de classe-média, onde há uma zona boêmia, com muitos bares e restaurantes. Não me recordo o nome da rua nem da praça, mas o fato notável sobre o lugar é o de ter sido muito freqüentado por Jorge Luíz Borges (acho que era Rua Jorge Luís Borges). Segui pela rua até uma praça com uma concentração de bares, além duma loja de roupas e feira de artesanato. Circulei pela praça, passei pela feira, até parar na dita loja, onde fui atendido por uma vendedora mui simpática. Disse-lhe que procurava uma lembrança para minha irmã quando ela me levou às camisetas de "Pero-Vaca", um personagem infantil, metade cão, metade vaca. Ela mostrou várias, até chegar na que explicou ser "o dilema existencial de Pero-Vaca", em que sai o balãozinho de sua cabeça com uma interrogação à frente dum cão e outra à frente da vaca; foi quando eu tive uma crise de riso e a moça ficou meio sem saber o que fazer. Ela fez a mesma cara que vocês, que me conhecem, fazem quando eu realmente rio. Comprei e, ao nos despedirmos, ela me disse "espero que ela se divirta tanto quanto você".

Depois parei num pub chamado Sullivan´s onde tomei umas cevejas que não conhecia. Fiquei lá enquanto passava uma partida do campeonato inglês. Havia uns jovens ingleses muito eufóricos no pub. Se não me falha a memória, era um jogo do Manchester United. Saí do Pub e voltei à Calle Florida para encontrar Ávril, o que não aconteceu, e eu fui-me embora para o hotel. Tomei um banho para sair e jantar mas, quando já estava pronto, fui acometido por um cansaço insuperável que me fez desistir. Tirei a roupa e fui dormir.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Para Vitória (e sobre o entendimento...)

Se o amor fosse um evento, cessaria sempre, seria uma coisa efêmera em nossas vidas. Para nossa graça, porém, há sempre amor nalgum canto do mundo, com freqüência - e para nossa sorte - num canto próximo. O evento é fazê-lo emanar das pessoas que, por melhores que sejam, nem sempre o fazem com prontidão, leveza e desprendimento. Felizmente, apesar de nossas limitações, o amor ao próximo é tão freqüentemente primitivo que nos surpreendemos com suas demonstrações. Perceber o amor na medida e forma como se nos é oferecido é um desafio. Oferecê-lo, contudo, é trivial para Vitória, a quem tive a graça de conhecer.

(Sobre e para a sobrinha Vitória, a quem conheci no último sábado, 26 de julho de 2008.)

terça-feira, 29 de julho de 2008

A Casa de Tuzerico


A casa é bonita. Tem uma porta vermelha e uma janela azul. Tem um quintal com pato, galinha e um cachorro que nunca late. O gato nem liga. O galo canta porque manda no galinheiro

Meu pai vai pintar o muro para ela ficar melhor. A cor do muro vai combinar com a do portão. O portão é de ferro, mas meu pai disse que vai trocar por um de madeira porque ele prefere.

A casa é bonita e grande. Tem três quartos e um quartinho. Eu fico no quartinho porque é no fundo do quintal. O problema é quando chove, porque o banheiro é dentro da casa. A casa é grande.

Esta casa não é uma obra de engenharia.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Evangelho de Mateus em 1979 D. C..

Estavam Jesus e seus apóstolos na Judéia. E Mateus era um homem. Mateus e Jesus conversavam. Mateus dizia uma coisa, Jesus dizia outra (que não era contrária, apenas diferente). Eles conversavam profiquamente. Havia também uma aranha, ainda não aparecida.

Então, estavam Jesus e Mateus. Aí apareceu a Aranha. E a aranha engoliu Mateus.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Prefácio (por Isabela Schlom)



Eu escolhi a UERJ* buscando uma relação de compromisso (das ponderações, não me recordo). A maioria dos pacientes que busca atendimento no hospital da UERJ não tem qualquer problema de saúde. Entre as pessoas da fila, uma anciã quer atenção do médico, um jovem e seu instrumento musical de braço quebrado e pendido ao ombro, além das demais, a quem não vejo direito, mas as posso contar.

Eu mesma fiz essa estatística. Tenho 14 anos e escrevi este livro de Estudos Sociais.

Meu nome é Isabela Schlom**.

domingo, 20 de julho de 2008

Relatos Porteños II

30 de abril de 2007.


Foi um dia confuso. Saí do Hotel Obelisco e caminhei pela Av. de Mayo, mas agora em direção à Plaza Congresso. Comprei uma edição do Clarín (eu pedi o menos conservador) e me sentei à mesa dum café para ler e apreciar o movimento. Eram umas dez e meia e eu li até mais de uma da tarde, entre cafés e medialunas (croissans doces, muito comuns aqui). Voltei ao Hotel Obelisco para pegar minha bagagem e me dirigir para o Hotel Duomi (era para ser assim mesmo). Resolvi ir de subte (de "subterráneo", como se chama o metrô aqui). É confuso à primeira vista, principalmente quando se carrega três mochilas, mas depois eu vi que não é tão difícil. Foi cansativo, mas cheguei.


Lá pelas três da tarde almocei um pollo con ensalata (eles pronunciam o ll como o nosso j) no Paco´s, um simpático restaurante popular à Calle Uruguay. Voltei ao hotel, tomei um banho e saí para ir à Calle Florida, onde os brasileiros adoram ir para fazer compras (é só uma rua com muitas lojas). Por sinal, fui de metrô e foi bem mais fácil. Quando saí da estação, deparei-me com uma manifestação de empregados da Movistar (também muito pitoresco).


Caminhei um pouco mais até encontrar uma menina distribuindo cartões postais e aceitando contribuições voluntárias. Ela era linda, Ávril, que me contou fazer parte de um grupo teatral e assim era que arrecadavam fundos. Eu comprei um do River Plate por um peso e marcamos de nos encontrarmos no primeiro de maio.


Caminhei mais um pouco e conheci Laura, uma garotinha de uns 8 ou 9 anos que tocava um acordeón e aceitava esmolas. Uma gracinha. Deixei dez centavos e tirei umas fotos autorizadas por ela. Ela me chamou e me perguntou de onde eu era, ao que respondi. Então foi quando ela me puxou pelo braço até uma loja de brinquedos e foi direto nas bonecas caras, alegando que nunca tivera uma. Foi em várias. As bonecas eram realmente caras, mas eu me sensibilizei e me decidi por uma solução consensual. Disse-lhe que lhe faria uma surpresa, mas que eu escolheria somente se ela voltasse. Quando eu fiz menção de ir embora, ela saiu correndo e voltou pra sua cadeirinha para continuar com o acordeón. Então eu comprei um tamanquinho de alguma princesa da Disney ao custo de AR$ 15,90, o que dá pouco mais de dez reais. Passei por ela e deixei. Eu acho que ela gostou.


Voltei para o Hotel à pé, caminhando pela Av. Corrientes. Jantei um ravioli de verduras ao molho bolonhesa e tomei uma meia-garrafa de vinho (3/8, Norton Classic argentino). Em certa altura da conversa com o mozo, ele me disse que tinha sotaque europeu e me perguntou donde era, o que respondi. Como fiquei curioso, indaguei-o de volta de onde lhe parecia meu sotaque e ele me disse que parecia francês.


Eu confesso que me esforço para falar direitinho, ao jeito portenho, mas realmente não sei o que produz esse efeito. E o dia foi assim.


Federico (identidade circustancial).

Relatos Porteños I

29 de abril de 2007.

Passara a noite em claro. Partira alegre. Voara absorto. Dei-me conta da chegada somente quando o avião cruzou a foz do Río de La Plata.
Sonolento, acordei enfim. Um argentino carimbou meu passaporte (felizmente, foi só isso). Troquei R$50,00 por pesos no aeroporto. Esperei uma meia-hora até chegar o traslado ao hotel. Conversei com o motorista o suficente para descobrir que era torcedor do River Plate. No caminho até o hotel, no Centro, há condomínios tanto mais luxuosos como mais proletários, daqueles com varais nas varandas. Há também favelas iguaizinhas às nossas. Muitos carros velhos circulam normalmente. Conversei um pouco mais (em "castellano", desde o início) até chegarmos ao hotel.

Chegando, tomei banho e saí pela Av. Diagonal Norte em direção à Plaza de Mayo para de lá ir à Feira de San Telmo, uma de antigüidades e artesanato. Na Plaza de Mayo uma moça de uns trinta e poucos anos veio até mim e me ofereceu seus serviços de guia. Eu não aceitei, mas como fi-lo mui delicadamente, ela se sentiu à vontade para falar de várias coisas, inclusive de suas convicções políticas. Em certa altura conversa ela me perguntou donde era. Respondi e sua reacçao, agora sim, realmente me surpreendeu. Ela me disse que meu sotaque parecia caribenho, e não brasileño. Comecei a achar que estava me saindo bem. Prosseguindo, fui a San Telmo: muito pitoresco. Para marcar o evento, a primeira coisa que fiz foi comer una empanada de carne con un porrón de Quilmes. Después, caminhei até Purrto Madero, que hoje é um centro gastronômico no qual se transformou uma parte da zona portuária. No caminho, fui abordado por mãe e filha, que me perguntaram como se chegava lá. Eu respondi que não tinha certeza, mas a julgar pela direção aonde iam as outras pessoas, deveria ser para lá. Seguimos. Eram Dna. Graciela e Evelyn. Conversamos mais, até chegarmos à revelação da minha nacionalidade, o que causou surpresa positiva nas duas, mas especialmente em mim (surpresa pela reacção delas). Descobri que Evelyn gosta e até sabe algum português, e até mais do que isso, "habla en castellano, pero con acento brasileño", disse-me. Conversamos um pouco mais até chegarmos à minha idade, quando então Dna. Graciela perguntou-me "qual é a fórmula?", a qual eu não revelei. Elas entraram num veleiro aberto à visitação e eu segui para o restaurante Siga la Vaca.
Encontrei o restaurante, que serve um buffet de churrasco, salada, sobremesa e vinho, TUDO INCLUSO, ao custo de 42 pesos (aos domingos, nos outros dias é mais barato, em torno de 28 reais). Tomei a primeira garrafa, continuei comendo, resolvi pedir a segunda. Tomei-a também e fui embora em bom estado. Tomei um táxi até o hotel e descobri que o problema foi o táxi (piadinha). Dormi e passei mal à noite. Nesse dia, aprendi que não devo tomar mais de uma garrafa de vinho quando estiver sozinho.

Federico (minha identidade circunstancial).