quinta-feira, 31 de julho de 2008

Para Vitória (e sobre o entendimento...)

Se o amor fosse um evento, cessaria sempre, seria uma coisa efêmera em nossas vidas. Para nossa graça, porém, há sempre amor nalgum canto do mundo, com freqüência - e para nossa sorte - num canto próximo. O evento é fazê-lo emanar das pessoas que, por melhores que sejam, nem sempre o fazem com prontidão, leveza e desprendimento. Felizmente, apesar de nossas limitações, o amor ao próximo é tão freqüentemente primitivo que nos surpreendemos com suas demonstrações. Perceber o amor na medida e forma como se nos é oferecido é um desafio. Oferecê-lo, contudo, é trivial para Vitória, a quem tive a graça de conhecer.

(Sobre e para a sobrinha Vitória, a quem conheci no último sábado, 26 de julho de 2008.)

terça-feira, 29 de julho de 2008

A Casa de Tuzerico


A casa é bonita. Tem uma porta vermelha e uma janela azul. Tem um quintal com pato, galinha e um cachorro que nunca late. O gato nem liga. O galo canta porque manda no galinheiro

Meu pai vai pintar o muro para ela ficar melhor. A cor do muro vai combinar com a do portão. O portão é de ferro, mas meu pai disse que vai trocar por um de madeira porque ele prefere.

A casa é bonita e grande. Tem três quartos e um quartinho. Eu fico no quartinho porque é no fundo do quintal. O problema é quando chove, porque o banheiro é dentro da casa. A casa é grande.

Esta casa não é uma obra de engenharia.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O Evangelho de Mateus em 1979 D. C..

Estavam Jesus e seus apóstolos na Judéia. E Mateus era um homem. Mateus e Jesus conversavam. Mateus dizia uma coisa, Jesus dizia outra (que não era contrária, apenas diferente). Eles conversavam profiquamente. Havia também uma aranha, ainda não aparecida.

Então, estavam Jesus e Mateus. Aí apareceu a Aranha. E a aranha engoliu Mateus.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Prefácio (por Isabela Schlom)



Eu escolhi a UERJ* buscando uma relação de compromisso (das ponderações, não me recordo). A maioria dos pacientes que busca atendimento no hospital da UERJ não tem qualquer problema de saúde. Entre as pessoas da fila, uma anciã quer atenção do médico, um jovem e seu instrumento musical de braço quebrado e pendido ao ombro, além das demais, a quem não vejo direito, mas as posso contar.

Eu mesma fiz essa estatística. Tenho 14 anos e escrevi este livro de Estudos Sociais.

Meu nome é Isabela Schlom**.

domingo, 20 de julho de 2008

Relatos Porteños II

30 de abril de 2007.


Foi um dia confuso. Saí do Hotel Obelisco e caminhei pela Av. de Mayo, mas agora em direção à Plaza Congresso. Comprei uma edição do Clarín (eu pedi o menos conservador) e me sentei à mesa dum café para ler e apreciar o movimento. Eram umas dez e meia e eu li até mais de uma da tarde, entre cafés e medialunas (croissans doces, muito comuns aqui). Voltei ao Hotel Obelisco para pegar minha bagagem e me dirigir para o Hotel Duomi (era para ser assim mesmo). Resolvi ir de subte (de "subterráneo", como se chama o metrô aqui). É confuso à primeira vista, principalmente quando se carrega três mochilas, mas depois eu vi que não é tão difícil. Foi cansativo, mas cheguei.


Lá pelas três da tarde almocei um pollo con ensalata (eles pronunciam o ll como o nosso j) no Paco´s, um simpático restaurante popular à Calle Uruguay. Voltei ao hotel, tomei um banho e saí para ir à Calle Florida, onde os brasileiros adoram ir para fazer compras (é só uma rua com muitas lojas). Por sinal, fui de metrô e foi bem mais fácil. Quando saí da estação, deparei-me com uma manifestação de empregados da Movistar (também muito pitoresco).


Caminhei um pouco mais até encontrar uma menina distribuindo cartões postais e aceitando contribuições voluntárias. Ela era linda, Ávril, que me contou fazer parte de um grupo teatral e assim era que arrecadavam fundos. Eu comprei um do River Plate por um peso e marcamos de nos encontrarmos no primeiro de maio.


Caminhei mais um pouco e conheci Laura, uma garotinha de uns 8 ou 9 anos que tocava um acordeón e aceitava esmolas. Uma gracinha. Deixei dez centavos e tirei umas fotos autorizadas por ela. Ela me chamou e me perguntou de onde eu era, ao que respondi. Então foi quando ela me puxou pelo braço até uma loja de brinquedos e foi direto nas bonecas caras, alegando que nunca tivera uma. Foi em várias. As bonecas eram realmente caras, mas eu me sensibilizei e me decidi por uma solução consensual. Disse-lhe que lhe faria uma surpresa, mas que eu escolheria somente se ela voltasse. Quando eu fiz menção de ir embora, ela saiu correndo e voltou pra sua cadeirinha para continuar com o acordeón. Então eu comprei um tamanquinho de alguma princesa da Disney ao custo de AR$ 15,90, o que dá pouco mais de dez reais. Passei por ela e deixei. Eu acho que ela gostou.


Voltei para o Hotel à pé, caminhando pela Av. Corrientes. Jantei um ravioli de verduras ao molho bolonhesa e tomei uma meia-garrafa de vinho (3/8, Norton Classic argentino). Em certa altura da conversa com o mozo, ele me disse que tinha sotaque europeu e me perguntou donde era, o que respondi. Como fiquei curioso, indaguei-o de volta de onde lhe parecia meu sotaque e ele me disse que parecia francês.


Eu confesso que me esforço para falar direitinho, ao jeito portenho, mas realmente não sei o que produz esse efeito. E o dia foi assim.


Federico (identidade circustancial).

Relatos Porteños I

29 de abril de 2007.

Passara a noite em claro. Partira alegre. Voara absorto. Dei-me conta da chegada somente quando o avião cruzou a foz do Río de La Plata.
Sonolento, acordei enfim. Um argentino carimbou meu passaporte (felizmente, foi só isso). Troquei R$50,00 por pesos no aeroporto. Esperei uma meia-hora até chegar o traslado ao hotel. Conversei com o motorista o suficente para descobrir que era torcedor do River Plate. No caminho até o hotel, no Centro, há condomínios tanto mais luxuosos como mais proletários, daqueles com varais nas varandas. Há também favelas iguaizinhas às nossas. Muitos carros velhos circulam normalmente. Conversei um pouco mais (em "castellano", desde o início) até chegarmos ao hotel.

Chegando, tomei banho e saí pela Av. Diagonal Norte em direção à Plaza de Mayo para de lá ir à Feira de San Telmo, uma de antigüidades e artesanato. Na Plaza de Mayo uma moça de uns trinta e poucos anos veio até mim e me ofereceu seus serviços de guia. Eu não aceitei, mas como fi-lo mui delicadamente, ela se sentiu à vontade para falar de várias coisas, inclusive de suas convicções políticas. Em certa altura conversa ela me perguntou donde era. Respondi e sua reacçao, agora sim, realmente me surpreendeu. Ela me disse que meu sotaque parecia caribenho, e não brasileño. Comecei a achar que estava me saindo bem. Prosseguindo, fui a San Telmo: muito pitoresco. Para marcar o evento, a primeira coisa que fiz foi comer una empanada de carne con un porrón de Quilmes. Después, caminhei até Purrto Madero, que hoje é um centro gastronômico no qual se transformou uma parte da zona portuária. No caminho, fui abordado por mãe e filha, que me perguntaram como se chegava lá. Eu respondi que não tinha certeza, mas a julgar pela direção aonde iam as outras pessoas, deveria ser para lá. Seguimos. Eram Dna. Graciela e Evelyn. Conversamos mais, até chegarmos à revelação da minha nacionalidade, o que causou surpresa positiva nas duas, mas especialmente em mim (surpresa pela reacção delas). Descobri que Evelyn gosta e até sabe algum português, e até mais do que isso, "habla en castellano, pero con acento brasileño", disse-me. Conversamos um pouco mais até chegarmos à minha idade, quando então Dna. Graciela perguntou-me "qual é a fórmula?", a qual eu não revelei. Elas entraram num veleiro aberto à visitação e eu segui para o restaurante Siga la Vaca.
Encontrei o restaurante, que serve um buffet de churrasco, salada, sobremesa e vinho, TUDO INCLUSO, ao custo de 42 pesos (aos domingos, nos outros dias é mais barato, em torno de 28 reais). Tomei a primeira garrafa, continuei comendo, resolvi pedir a segunda. Tomei-a também e fui embora em bom estado. Tomei um táxi até o hotel e descobri que o problema foi o táxi (piadinha). Dormi e passei mal à noite. Nesse dia, aprendi que não devo tomar mais de uma garrafa de vinho quando estiver sozinho.

Federico (minha identidade circunstancial).