quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Do Hospital à Barragem

Consta que eu nasci aos 15 de março de 1975, cerca das 19 horas, no Hospital Naval do Salvador, então localizado na Praça Almeida Couto, bairro de Nazaré, num distrito que se chama Cidade Alta, em São Salvador da Bahia (doravante, Salvador). Conta minha mãe que lhe perguntara o médico se agüentava caminhar, o que pôs-se a fazer, depois de sua resposta positiva, em direção à sala de parto. Filho do primeiro de cinco Césares, fui dado à luz numa cesariana. Nascido grande e sadio, assim iniciei-me nesta vida que ora relato.


Por sinal - e a bem da verdade, diga-se, não mais que relatos são as fontes únicas e iniciais destes escritos até minha primeira lembrança consciente original; as inconscientes, de acesso difícil e foro privado, demandam intercessão de profissional qualificado. (Sem mais delongas, prossigamos). Não me recordo de ter-me sido contado quanto tempo decorrera do parto à chegada em meu primeiro lar, o que me faz pensar não ter excedido o que era praticado na época para partos cesários. Enfim, chegara em casa. Morávamos eu e meus pais num apartamento de dois quartos e varanda, armários em vários cômodos, área de serviço. Travessa Espírito Santo, bloco 5, apartamento 101, Vila Naval da Barragem. Eram uns prédios com colunas de concreto aparente entre paredes brancas e de tijolos vermelhos; uma rua em aclive íngreme, alguns blocos e quatro casas no alto, geminadas duas-a-duas. Além das minhas recordações, ainda que posteriores, do lugar, restaram algumas fotos que dão conta de feições daquele espaço, embora - confesso - prefira buscá-las na memória.


Certa feita, ainda criança, contei a minha mãe sobre uma cena em que eu estava num cercado, bem no meio da sala; não pôde esconder a surpresa, acrescentando que o tivera até os dois anos de idade. Das cenas remotas que me lembro, talvez não sejam esta a seqüência, é difícil ordená-las no tempo com precisão; lembro-me de algumas, muito breves: entrando na Kombi da escola, andando na direção da carreta do meu tio, vendo o cabrito entre as crianças, correndo com a prima no estacionamento, conversando com Marizete, subindo a escada, chegando na casa de Tânia (com um pente preso a seus cabelos alisados a ferro quente)... são algumas. Lembro-me que lá moraram meus avós, com meu tio e minha prima; havia movimento na casa. Há algumas fotos dos meu aniversários em que aparecem todos eles com os demais convidados, que eram muitos, entre familiares, amigos e vizinhos.


Eu não me lembro de como pensava, o que parece comum na idade adulta em relação à primeira, segunda e até terceira infâncias, de sorte que muito pouco posso inferir quanto do que eu era ainda perdura. Quero crer que a guarda de tão remotas lembranças já diz algo a quem pude interpretá-lo. Há mais algumas imagens e impressões guardadas cujas menções hei de fazer em breve.


(Continua).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Gênese





A barra de metal se cuva, suave e lentamente, sobre as pedras às margens do Mar de Aral...