quinta-feira, 31 de março de 2011

A Lanterna (II)

A pouca luz da Lanterna não excede uns poucos metros através da Penumbra, muito aquém donde a vista pode alcançar quando há luz. Umas tantas casas justapostas em declive contornam o estreito caminho até aquela que se chama "o buraco" por razões alheias a qualquer questionamentos. Antes, porém, o coche sobe por arruamentos também traçados ao sabor do pouso dos colonos e suas casas. É um caminho que parecia bem mais longo, por cuja razão seu fim foi de grato contento.

A penumbra é espessa o suficiente para conter a luz que jaz dentro da casa cavitante, o que ainda foge ao conhecimento do Andarilho e sua fraca lanterna. É sabido - por quem convém sabê-lo e mais ninguém - que segue o Andarilho através da Penumbra a fim, unicamente, de presentear a quem não sabe o Residente, talvez também o Visitante, se houver um, mas segue indefinidamente.

Num futuro próximo, havia o Andarilho de lembrar-se saudoso desse dia; não do que está por se suceder nesta casa, mas no que virá depois. O que gostaria se acontecesse não pôde se estender além do seu próprio pensamento.

(Continua)

sábado, 12 de março de 2011

Rascunho de Flores Rotas


Rota flor encaminhada
A porta desconhecida
Singela, mal desenhada,
Encabulada, contida

Rota flor, desenganada
Como uma causa perdida
Jaz ainda bem guardada
Rota, embrulhada, esquecida

Toma esta flor, assim, rota
Dá-lhe solo, luz e água,
Tudo que for preciso

E faz sonhar o florista
Com muitas flores a dar-te
Colhidas no paraíso.