domingo, 5 de junho de 2011

Monólogos Além do Banquete

A neomúsica nilótica
A perfeição e a zona afótica
As chamas e a alma trépida
O perfume e as vestes fétidas

As curvas e a face exótica
A atitude hipócrita
A constituição rústica
A qualidade acústica

As análises insólitas
As várias óticas sórdidas
As fantasias impudicas
Sorriso e palavras lúdicas

A verdade encoberta
Aporta entre-aberta
A chance remota
A ausência de porta

As angústias, as maravilhas
As chamas isolando a ilha
A solidão, a partilha
Sem que uma das partes
Fuja da família
Ou, talvez muda, quase morta
Você se esconda atrás da porta.

Nota: este poema data do segundo semestre de 1991 e é a letra duma canção cujos acordes custei a lembrar-me. A pompa do título arrefece-se com a singeleza da melodia. A Gabriela Garcia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Maloqueiros do Mundo (III)

Desde 2009 venho colecionando impressões sobre os EUA (Estados Unidos da América, também conhecido como iú-és-ei), em vindas (sim, eu estou aqui) por razões diversas. Estive em outras cidades, mas a que passei mais tempo e revisito nesta oportunidade é Houston, capital mundial da indústria de petróleo, mas nem por isso capital do Texas.

Houston é uma cidade grande, que bem parece uma passagem de carros, dado o tamanho das estradas, aqui chamadas freeways, e o espaço livre entre as edificações. Houston é uma cidade pensada para pessoas dentro de carros, e é aí que nos entramos, porque quem tá fora de um, parceiro, pode crer que é maloqueiro.

Andar a pé em Houston é, em si, uma atitude suspeita, porque só gente com cara suspeita se locomove assim. E deve ser mesmo muito arriscado fazê-lo, porque "por milhas e milhas" não se ve um pé de pessoa "na paleta" (ou "na 11", que significa "a pé" no dialeto crioulo soteropolitano). Assim, para quem acompanha minhas andanças pelo mundo, nada mais apropriado a alguém com meu perfil do que não dirigir. Aí, não deu outra: eu sou mais um maloqueiro batendo perna pelas drives'n roads de Houston.

Os pedestres de Houston são indubitavelmente pessoas mais humildes (do que todas as outras). Dos poucos pedestres, acho que um era branco, os demais eram negros ou hispânicos. Nao que ser preto ou ter cara de mexicano signifique ser pobre e fuleiro, mas, no caso, é. Então, só para não parecer que sou eu o preconceituoso, conto que vi uma moça de louro cabelo escorrido natural e inconfundíveis olhos azuis, esquálida e banguela, portando uma placa de papelão com o dizer "hungry", a pedir esmolas num semáforo do outter loop. Feito o contraponto, voltemos à ironia da realidade.

Eu, maloqueiro que sou, aproveitando o bom momento da economia brasileira, fui gastar os meus dolares nas liquidações diversas, onde se encontra muita coisa de marca a preço de porta-de-loja. Eu entrava nas lojas e saia, 2 horas depois, chei de saco prártico na mão, a andar até o hotel, parecendo um maloqueiro. Por falar em hotel, o que me hospedei tem ótimas instalaçoes, mas os hóspedes têm umas caras de maloqueiro da porra. Mas, tá, vamos seguindo.

Embora eu ache que pareça um maloqueiro nesses lugares estrangeiros, eu sei que eu sou uma pessoa direitinha, que tem seu emprego direitinho, recebe seu ordenado todo fim-de-mês... mas nesses caminhantes de Houston, realmente, não dá pra confiar. Aí, eu não vou mentir, quando eu ando pela rua, só porque eu não sou habilitado a dirigir (que fique bem claro que é só por isso), e vejo uma pessoa a pé, (mais uma vez) eu não vou mentir que bate o preconceito. E sobre isso, minha única conclusão é que aquilo que a gente ja' sabe: os pessoal são desunido.


Na próxima vez que vier à América (essa foi de sacanagem), eu espero realmente estar munido de carteira de habilitaçao para poder alugar um carro e, pelo menos, ter a sensação que acomete a nova classe-média brasileira e que eu desconheço nas minhas andanças - literalmente - nestas terras estrangeiras, de ascençao social. A ver (quando o meu chefe vai me mandar vir de novo!).


P.S.: Deixei para publicar do Brasil porque este computador nao fala brasileiro e não acerta botar acento.