quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Trilogia da Loucura*

- Triologia da Loucura*(asterisco!). Um filme com três emocionantes histórias, das quais só duas têm a ver.

Na primeira história, um adolescente passa a reagir estranhamente quando contrariado por sua mãe, desferindo-lhe tapas e ponta-pés. Desesperada, a mulher vive a saga de tentar internar o filho no hospício.

Na segunda história, um homem de meia-idade muda drasticamente seus valores materiais depois de descobrir o adultério da esposa. Desvariado, o homem rasga seu ordenado na frente da mulher, que então corre contra o tempo tentando internar o homem no hospício.

Na terceira história, um menino adquire estranhos hábitos alimentares, para a repulsa de todos, que fazem um abaixo-assinado para tentar internar o menino no hospício.

- Trilogia da Loucura*(asterisco!).

O asterisco é porque bater na mãe não é caso de internação, mas sim de excomunhão. Só os outros dois casos são loucura, o resto é gaiatice ou descaramento. O problema é que o menino não é nem batizado...

- Trilogia da Loucura*(asterisco!). Breve, nos cinemas*.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Maloqueiros do Mundo (II)

Continuando com a visão distorcida, eurocêntrica e (escroquemente) irônica do resto do mundo, quero aproveitar o comentário de (Eduardo) Rossiter sobre o texto anterior para seguir com minha análise rasa e politicamente incorreta sobre esses maloqueiros, que saem de seus países pra bagunçar os das pessoas civilizadas, a exemplo do que eu mesmo fiz e, devo confessar, com o que muito me identifiquei.

Africanos

São muito numerosos em Paris, parecem até que sempre estiveram lá de tantos que são. O negro em Paris pode ser tudo, menos exótico, de tão comum. Não estive em nenhum bairro de africanos (nem de árabes, nem de marroquinos, nem de ciganos... parecia até que eu nem era maloqueiro), mas eles são realmente numerosos e braulizam com naturalidade.

A estação de Chatelêt, perto do Centre Pompidou, no bairro - bem turístico e "alternativo" - de Marais é muito grande e movimentada, encontro de várias linhas de metrô, além do trem, com estações mais espaçadas, que cruza a cidade levando (e trazendo) o povo (e os pessoal) dos arredores. Pois bem, a saída da plataforma de desembarque se dá por umas portas que se abrem automaticamente com a proximidade de quem sai. Eu cheguei a ver uma família inteira de negões esperando a porta abrir para entrarem sem pagar numa das vezes que passei, e foram várias: homem, mulher e carrinho de bebê com ele dentro, tudo junto. Também vi negões sozinhos usando o mesmo expediente, particularmente na hora do rush, quando a muvuca é maior. Diga-se de passagem (sem pagar), foi mais de uma vez que eu saí e um africano entrou (vamos generalizar para manter o mote).

Ser negão africano é natural e corriqueiro pra gente, até porque eles se passam por brasileiros tranqüilamente até falarem, exceto os americanos ou diplomatas. Mas para os franceses, esses africanos, como eu, são maloqueiros do mundo.


Franceses

Antes que alguém me chame de racista, quero contar o reverso da moeda. Até porque só a gente que é preto é que sabe.


Numa das muitas vezes que acessei a estação de metrô Saint Georges, eis que uma moçóila muito fofinha, que é, sem qualquer esforço, o que toda típica patricinha brasileira gostaria de ser, se dirige a meu amigo e diz qualquer coisa em Francês. Ele ignora e passa direto. Eu, malandro de muitos anos de buzu, entendi que ela queria passar com ele ou qualquer coisa do gênero, para usar o metrô sem pagar passagem. - Vacilão!, sentenciei, porque deixou de tirar aquele proveito da situação, da proximidade, do contato. E aí que com muita desenvoltura a mocinha pula a catraca e acessa a plataforma de embarque. Pra quem tem preconceito de cor, não dá pra entender como uma moça, assim, de família faça uma coisa dessas. Mas os franceses não pararam por aí.

Noutro dia, na mesma estação, um rapazote, que no Brasil seria tido como "de família", com a mesma destreza, pulou a catraca e inseriu-se no sistema de transporte de massa parisiense.


É por essas e outras que o taxista recifense, com trinta anos de praça no Rio, falou com convicção:

- Eu não gosto de gringo, eu gosto é do turista brasileiro (ênfase dele, tenho testemunhas, se alguém fizer questão).

Schopenhauer e o taxista compartilham do mesmo sentimento, em particular, sobre os franceses. Em "A Arte de Insultar", diz: " Todos os outros continentes têm macacos. A Europa tem os franceses. É a mesma coisa."

Agora, cá entre nós, esses franceses vêm pra cá querendo dar uma de chiques, mas, na verdade, na verdade, eles não sabem que nós sabemos que eles, na superfície, são uns maloqueiros do mundo. Se depender daquele taxista, eles vão andar é de ônibus!

Valeu.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Maloqueiros do Mundo (I)

Quero deixar claro que este texto pode parecer politicamente incorreto. Vamos lá.

Eu, soteropolitano nato, nascido e criado na Cidade da Bahia, por muitos, e muitas vezes, tive minha naturalidade contestada.
- O quê? Você, bahiano? Não parece MESMO!
Dizem sem constrangimento. É certo que minha atual palidez não é típica de Soterópolis, ou mesmo quando era costumaz freqüentador da praia de Amaralina, nos meus saudosos tempos de Nordeste d'Aquela, também bahiano - diziam - não parecia. Emigrante de Salvador, vim morar no Rio e acabei atravessando as fronteiras nacionais.

Em Paris, tinha cara de marroquino - aliás, brasileiro tem a maior cara de marroquino - , mas acho que parecia mais bronco, talvez um típico latino-americano, não sei... enfim, e com certeza, um maloqueiro.

Os africanos árabes ou negros, os caucasianos do leste europeu, ciganos, indianos, afegãos, paquistaneses, chineses e turcos e povos semitas (exceto os judeus), descobri que são como eu, uns maloqueiros do mundo. Vejamos algumas histórias.


Ciganos I

Atravessava umas das pontes sobre o Rio Sena (falo do rio que corta Paris, não do bairro do subúrbio ferroviário de Salvador), salta aos olhos aquele objeto brilhante sobre a calçada de concreto. Distraído que vinha, continuei andando, mas minha expressão corporal não escondeu a surpresa. Do nada, aparece uma senhora apanhando o objeto, um pesado anel de ouro, que apanha o anel do chão, olha pra mim e diz algo como...
-Cest vous ? (Não sei francês, mas ela me perguntou se era meu, sem dúvida).
Respondi - non - e balancei a cabeça, também negando, e andando. Já com o anel na mão, ela falou umas coisas em francês, fez o inconfundível gesto com a mão me chamando e abriu o sorrizinho. Quando eu vi aquele dentinho encardido e um brilho na boca, pensei:
- Aaaaah, cigana...

A senhora cigana, como eu, é maloqueira do mundo.



Ciganos II

Chegando à igreja de Notre Dame de Paris, vários adolescentes se aproximaram. Como eu sou coração mole para ajudar o próximo, passei logo direto e me afastei, e Roberto ficou. Demorou um tempo e um segurança veio, todo grosso, enxotando a menina. O caso é o seguinte.

Os jovens ciganos ficam em frente aos museus, nas praças, até no aeroporto, abordando as pessoas e fazendo um gestual de que são surdas e estão arrecadando dinheiro. O curioso é que todos eles carregam uma pranchetinha e uma lista fotocopiada com o timbre de várias entidades e, no topo, da UNESCO, onde o desavisado assina o nome e assinala a quantia doada. Cheguei a ler doações de 10 a 20 euros. Vi algumas vezes esse grupo em conversa fonada entre si depois de enxotados por seguranças.

Eles têm um fenótipo bem diferente dos franceses, são bem morenos, cabelos escuros, sobrancelhas grossas. O fato é que Sarkozyputo com a Romênia, que resolveu dar passaporte europeu aos ciganos, e eles, cujo mais besta voa, tomaram o caminho da Europa. :-D

Os ciganos jovens de Paris, como eu, são maloqueiros do mundo.


O turco

Saio do hotel em Istambul, um turco, malandro, me pergunta as horas. Não que eu saiba turco, mas o gesto da pergunta é universal. No reflexo, respondo - seven ten - e prossigo a caminhada (malandragem). Foi aí que eu descobri tudo! Ele disse:
- Brazilian, really? You look like turkish!

Pura malandragem, mas prossigamos. Eu disse a ele o restaurante que estava indo e ele me aconselhou outro, que "custa menos da metade". Ele me apontou o restaurante e a rua onde a balada local pega. Eu o segui até o restaurante e ele me apontou um outro estabelecimento "pra tomar uma cerveja". Olhei da porta e havia só umas mulheres dançando e o tradicional "segurança". Entendi que o turco queria que eu entrasse no brega. Polidamente, disse-lhe
- This is not the place that I'm looking for. I'm going to the restaurant. Nice to meet you...
e entrei no restaurante onde comi um prato que nem vou tentar escrever o nome. E era comida, ao preço de 17 liras turcas, menos de 20 reais.

Assim, finalmente, descobri e subitamente compreendi que os turcos, que se parecem comigo, são também maloqueiros do mundo.