domingo, 24 de junho de 2012

A Bordo do Western Pride

Estive a bordo do Western Pride por 14 dias em Abril de 2005. Novamente por embarcar num navio de aquisição de dados sísmicos, desta vez o Ramform Sovereing (vide foto), onde permanecerei por, pelo menos, 14 dias a partir de amanhã (25 de Junho de 2012). Aproveitando a oportunidade para introduzir minhas futuras impressões, segue uma mensagem aos amigos por época daquela primeira experiência.



Queridos,
Neste momento encontro-me  aos 22 graus sul de latitude e 39 graus oeste de longitude no rumo 319 graus norte (um giro de 319 a partir do Norte). Mais ou menos a 150 km da costa. Como podem perceber, estou longe, mas ainda assim é possível mandar notícias, como esta mensagem atesta.
O Western Pride é um navio contratado pela Petrobras para fazer aquisição de dados sísmicos sobre a área que abrange os campos de Marlim (maior produtor do Brasil) Marlim Sul e Marlim Leste. Mas isso é cultura geral enfadande. Vamos às minhas impressões.

Como estamos navegando numa área produtora de petróleo, a visão é muito curiosa, no mínimo. São 19:00h, noite portanto, e nos vemos numa cidade sobre o mar. As plataformas nas áreas produtoras são muito próximas umas das outras, de maneira a parecer literalmente uma cidade emersa em pleno Oceano Atlântico, com seus grandes condomínios, onde as pessoas moram e trabalham. Não só as luzes, mas as chamas das plataformas iluminam a paisagem noturna. As chamas, felizmente, não provêm de incêndio, mas de um equipamento próprio para queimar o gás que não é aproveitável. A esse propósito, mais um pouco de cultura geral: grande parte do gás produzido é reinjetado no reservatório para impedir uma queda muito grande de pressão; outra parte é consumida na própria plataforma, o equivalente ao consumo diário de uma cidade de 70.000 pessoas; e uma pequena parte, cerca de 3%, que não pode ser armazenada, é queimada num equipamento chamado "flare".

As instalações do navio são confortáveis, embora não sejam exatamente uma maravilha. A tripulação é internacional e divide-se em três grupos: a equipe sísmica, o pessoal de navegação e os que cuidam das máquinas, convés, limpeza, cozinha, etc. Há ingleses, americanos (maioria), filipinos (inclusive o cozinheiro), uma menina canadense e até alguns brasileiros. Por incrível que pareça, pouco falei em inglês, mas isso deve-se muito a esta minha presença contida e discreta, conhecida de todos. De negativo no navio, conto o forte ar condicionado nalguns cômodos.

O tempo tem sido bom de modo que o navio balança pouco, mas o suficiente para embalar o sono de qualquer um. Aliás, balanço de navio dá uma sonolência... A gente dorme que é uma beleza.
Estamos aqui num grupo de três, responsáveis pela fiscalização da aquisição sísmica, o que envolve o controle de qualidade do dado e o acompanhamento das operações quando da passagem próxima a plataformas e sondas operantes na área do levantamento, o que requer a comunicação com seus respectivos comandantes e uma intervenção para reposicionamento de navios-sonda e navios-plataforma (doravante, se necessário, FPSO). O trabalho no navio não para e a tripulação divide-se em dois grupos que trabalham 12 h/dia, com trocas ao meio-dia e à meia-noite.

O nosso trabalho fica mais concentrado no turno diurno e abrange também o envio de um relatório diário para a base, relacionando as operações e fazendo as observações pertinentes sobre a qualidade dos dados. Ainda não foi preciso ficar acordado durante a noite.
Meu desembarque está previsto para o dia 14 de abril e eu espero receber notícias de todos.
Beijos e abraços,
F.A.F.O.