quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre uma publicação compartilhada acerca da eleição presidencial


Recebi este texto (http://tijolaco.com.br/blog/?p=22172)hoje de manhã, encaminhado pelo meu chefe - o que, em si, não tem qualquer significado maior, mas é digno de nota - com o seguinte preâmbulo.

"Buenas,
votem em quem votarem, vale a reflexão. Há um tempo me dei conta de que a maior parte das pessoas que trabalhava comigo não sabia o nome da senhora que nos servia café, ou que fazia a limpeza. Sequer olhavam para o rosto delas ou agradeciam quando serviam o café ou recolhiam o lixo. Numa eleição sujinha como essa, recolher o lixo, ainda que da nossa alma, é importante."

Minha mensagem é que não sejamos mesquinhos em nossas análises sobre os programas sociais e de distribuição de renda que, até antes das eleições, eram tão criticados pela oposição, mas que agora reclama sua paternidade.

Nós, que somos classe-média, que pagamos 27,5% de imposto de renda, que somos descontados na fonte, temos sim a perder com o retorno de um governo neoliberal, como o que propõe Aécio Neves, uma vez que não esclarece sua política econômica, escondida atrás de conceitos genéricos e abstratos como "gestão profissional", aprimoramento, aperfeiçoamento, manutenção, meritocracia, sem citar, uma vez sequer, a palavra AVANÇO.

Tenho amigos que votam em Aécio, o que respeito. Mas, como nenhum deles é banqueiro, rentista ou realmente muito rico, confesso-lhes que não os entendo. Imperiosamente, porém, não quero ir além disso.

Estudei em instituições federais por quase dez anos da minha formação: de 1991 a 1994, na ETFBA, durante a transição de Collor para Itamar até o fim de seu mandato, e de 1995 a 2000 na UFBA, durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Como eu gostaria que houvesse um Ciências Sem Fronteiras quando estudante de graduação em Geofísica. Como eu gostaria que houvesse que, na mesma época,um Inglês sem fronteiras. Como eu gostaria de poder concorrer a uma vaga numa universidade pública em qualquer lugar do país em 1994, quando prestei vestibular. Por ora, restrinjo-me a meu bem maior, que é minha formação intelectual, a que devo meus proventos de hoje.

Só passei a gozar da qualidade-de-vida e poder de consumo do cidadão de classe-média apartir de 2002, quando me tornei empregado da Petrobrás e tenho extrema dificuldade para assimilar o que perderam as pessoas que lá estavam naquela época, e nela se mantiveram, nesses doze anos de governo do PT. Causa-me espécie que não se brilhe os olhos diante de tantos cartazes e anúncios de "contrata-se", "admite-se", "estamos recrutando 'sem experiência'", "venha trabalhar conosco" nas vitrines das lojas ou interior dos ônibus coletivos (sim, ando de ônibus, pra quem não mora no Rio), só para citar os serviços. Causa-me espécie que não se veja como positiva a possibilidade de escolha em que a última opção seja-se ser empregado doméstico, uma profissão de extrema responsabilidade e, por razões históricas (a meu ver, principalmente pela herança de nosso passado escravocrata) tão desprivilegiada.

Enfim, são muitas as coisas que fazem alguém querer votar no PSDB que, realmente, sou completamente incapaz de compreender. Mas não vou me delongar. Quero, apenas, usar o texto abaixo para pontuar nossos privilégios e acrescentar que, quando a base da pirâmide social sobe, nós subimos juntos. E que, embora ganhemos bem mais do que a maioria dos trabalhadores brasileiros, nós, classe-média, quer sejamos assalariados ou profissionais liberais de qualquer setor, temos muito a perder sem o AVANÇO das políticas sociais de distribuição de renda, sem a ascenção de mais gente à classe-média, sem pleno emprego - como agora. Não são índices como PIB, crescimento, "mercado", nem mesmo inflação que nos impede de encher os shoppings nem os aeroportos em vôos internacionais (ou estariam vazios), nem pagam nossas contas, nem enchem nossas barrigas, muito menos a de milhões de brasileiros que melhoraram de vida nos últimos doze anos.

Para encerrar eu e meu amigo - que temos um abismo de divergências políticas -  dividimos uma conta de vinho no mercado que deu mais de uma bolsa-família pra cada um. Eu quero é só ter de reclamar de futilidade, pelo amor de Deus!

Eu voto Dilma Roussef.