sábado, 20 de dezembro de 2008

Do Colégio Naval



Chegava ao Colégio Naval pela primeira vez para uma aula. Não sabia de que matéria, mas a sinalização nos corredores indicava facilmente a sala. Era fácil chegar a ela, até mesmo por não haver muitas opções de destino entre os caminhos de acesso livre.

Era uma aula de Eletricidade. O professor, um oficial de voz firme e grave e um ar de severidade incomum aos civis, proferia a aula sentado à sua mesa, com todos os alunos em postura erecta, inabalável. Falava sobre redes de distribuição de energia, transformadores e outras máquinas elétricas. Era um capitão-tenente, pardo e de traços angulosos. Ao fim da aula, foram todos embora.

Passado algum tempo, retornara ao Colégio, desta vez acompanhado por um amigo. Na entrada, estava sentado um tenente, como quem espera por alguém. Trocaram algumas palavras quando chegou um segundo, este à paisana. Falavam do professor e o segundo adentrou a conversa dizendo-o conhecido seu de outros períodos, "um homem realmente duro". O tenente que esperava assim permaneceu, os outros desceram as escadas em direção ao pátio. O segundo, então, perguntou aos rapazes donde o conheciam. Responderam que foram aprovados na primeira fase do concurso e, por isso, tiveram aulas; no entanto, era como se aquela ida ao Colégio Naval não decorresse da aprovação no concurso, fato de um passado recente e superado, mas fosse uma experiência de outra natureza. Talvez não fosse.

Desceram as escadas e chegaram ao pátio. De repente, estavam fardados. Entraram na mesma sala para aula com o mesmo professor, que parecia muito mais simpático, como se falasse a seus pares em vez de a subalternos. Entendeu, enfim, porque a severidade do primeiro contacto, guardou para si; fechou os olhos. Escureceu.

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