quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Origem do Método (da resistividade)

Os primeiros estudos sobre a viabilidade de um método sensível à resistividade das rochas foram realizados em 1911 por Conrad Schlumberger, engenheiro de minas e então professor de Física da Ecole des Mines, em Paris (Allaud e Martin, 1977). Examinando amostras de minérios, Conrad ratificou resultados anteriores de que a condutividade elétrica era um parâmetro mais adequado que a densidade e a permeabilidade magné́tica para a distição entre um corpo mineralizado e a sua rocha encaixante. Este resultado foi também estendido a formações sedimentares, especialmente areias argilosas de depósitos aluviais recentes. Em experimentos com sedimentos, misturas de areia e argila saturadas por soluções salinas a diferentes concentrações, eram percorridas a uma corrente elé́trica, entre os eletrodos A e B e, com um par de eletrodos de potencial, M e N , ligados a um fone de ouvido, eram identificadas as linhas eqüipotencias.


Os primeiros testes de campo foram realizados entre 1912 e 1913 durante o experimento de
Val-Richter, com a substituição da fonte de audiofreqüência pela de corrente contínua, e do fone-de-ouvido por um galvanômetro. Também, os eletrodos de potencial tiveram de ser não-polarizáveis, em lugar dos antigos, de cobre, em virtude da estacionariedade da fonte.


O experimento consistiu da instalação dos dois eletrodos de corrente, sendo
A local e B, remoto, e os pontos eqüipotenciais eram identificados pela varredurra de posições ao entorno
de A com os eletrodos M e N ; a partir dos pontos, traçavam-se linhas eqüipotenciais. Ao experimento de Val-Richter, seguiram-se muitos outros que resultaram no registro de várias patentes.


Em 1915, o físico Frank Wenner, do U.S. Bureau of Standarts, anuncia o desenvolvimento de um arranjo com seu nome (Allaud e Martin, 1977).



Em 1920, Conrad publica seu primeiro trabalho, intitulado Etude sur la Prospection Életric du Sours-sol, descrevendo seus métodos e resultados. Nesse trabalho é introduzido o conceito de
resistividade aparente como parâmetro de referência, igual à razão entre a diferença de potencial, medida entre os eletrodos M e N, e a intensidade de corrente emitida, multiplicada por um fator, função da separação entre os 4 eletrodos. Além do cálculo simples, a resistividade aparente "reflete um valor médio, dependendo das resistividades e da distribuição espacial das várias formações dentro do volume total da superfície medida".


Fonte:
http://www.cpgg.ufba.br/gr-geof/geo213/trabalhos-graducao/Frederico-Oliveira.pdf



N.A
.: Cada vez que leio meu trabalho de graduação, encontro erros ou coisas que preferiria ter escrito de outra forma. A propósito, é bem fácil constatar quanto o texto carece de revisão, que eu não fiz na época.De qualquer forma, o que me motiva a publicá-lo é a saudade dos tempos de estudante.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Recado

Oi Fred,
Não esqueça de tirar essa roupa do varal de fora.
Não pode levar chuva e ficar cheirando a chulé.

Quitéria.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Meu Próximo Livro

Depois do sucesso de Inteligência Emocional, de Domenico de Masi, vem aí o próximo livro mais vendido (best-seller) do Brasil: Chantagem Emocional.

Aprenda truques e artimanhas para ter as pessoas motivadas a fazerem algo por você. Saiba como mexer com as emoções alheias de forma a atingir seus objetivos.

Chantagem Emocional, seu próximo guia de comportamento, seu eterno manual de sobrevivência.

Chantagem Emocional: breve, em todas as livrarias, bancas e máquinas de livros.

domingo, 5 de junho de 2011

Monólogos Além do Banquete

A neomúsica nilótica
A perfeição e a zona afótica
As chamas e a alma trépida
O perfume e as vestes fétidas

As curvas e a face exótica
A atitude hipócrita
A constituição rústica
A qualidade acústica

As análises insólitas
As várias óticas sórdidas
As fantasias impudicas
Sorriso e palavras lúdicas

A verdade encoberta
Aporta entre-aberta
A chance remota
A ausência de porta

As angústias, as maravilhas
As chamas isolando a ilha
A solidão, a partilha
Sem que uma das partes
Fuja da família
Ou, talvez muda, quase morta
Você se esconda atrás da porta.

Nota: este poema data do segundo semestre de 1991 e é a letra duma canção cujos acordes custei a lembrar-me. A pompa do título arrefece-se com a singeleza da melodia. A Gabriela Garcia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Maloqueiros do Mundo (III)

Desde 2009 venho colecionando impressões sobre os EUA (Estados Unidos da América, também conhecido como iú-és-ei), em vindas (sim, eu estou aqui) por razões diversas. Estive em outras cidades, mas a que passei mais tempo e revisito nesta oportunidade é Houston, capital mundial da indústria de petróleo, mas nem por isso capital do Texas.

Houston é uma cidade grande, que bem parece uma passagem de carros, dado o tamanho das estradas, aqui chamadas freeways, e o espaço livre entre as edificações. Houston é uma cidade pensada para pessoas dentro de carros, e é aí que nos entramos, porque quem tá fora de um, parceiro, pode crer que é maloqueiro.

Andar a pé em Houston é, em si, uma atitude suspeita, porque só gente com cara suspeita se locomove assim. E deve ser mesmo muito arriscado fazê-lo, porque "por milhas e milhas" não se ve um pé de pessoa "na paleta" (ou "na 11", que significa "a pé" no dialeto crioulo soteropolitano). Assim, para quem acompanha minhas andanças pelo mundo, nada mais apropriado a alguém com meu perfil do que não dirigir. Aí, não deu outra: eu sou mais um maloqueiro batendo perna pelas drives'n roads de Houston.

Os pedestres de Houston são indubitavelmente pessoas mais humildes (do que todas as outras). Dos poucos pedestres, acho que um era branco, os demais eram negros ou hispânicos. Nao que ser preto ou ter cara de mexicano signifique ser pobre e fuleiro, mas, no caso, é. Então, só para não parecer que sou eu o preconceituoso, conto que vi uma moça de louro cabelo escorrido natural e inconfundíveis olhos azuis, esquálida e banguela, portando uma placa de papelão com o dizer "hungry", a pedir esmolas num semáforo do outter loop. Feito o contraponto, voltemos à ironia da realidade.

Eu, maloqueiro que sou, aproveitando o bom momento da economia brasileira, fui gastar os meus dolares nas liquidações diversas, onde se encontra muita coisa de marca a preço de porta-de-loja. Eu entrava nas lojas e saia, 2 horas depois, chei de saco prártico na mão, a andar até o hotel, parecendo um maloqueiro. Por falar em hotel, o que me hospedei tem ótimas instalaçoes, mas os hóspedes têm umas caras de maloqueiro da porra. Mas, tá, vamos seguindo.

Embora eu ache que pareça um maloqueiro nesses lugares estrangeiros, eu sei que eu sou uma pessoa direitinha, que tem seu emprego direitinho, recebe seu ordenado todo fim-de-mês... mas nesses caminhantes de Houston, realmente, não dá pra confiar. Aí, eu não vou mentir, quando eu ando pela rua, só porque eu não sou habilitado a dirigir (que fique bem claro que é só por isso), e vejo uma pessoa a pé, (mais uma vez) eu não vou mentir que bate o preconceito. E sobre isso, minha única conclusão é que aquilo que a gente ja' sabe: os pessoal são desunido.


Na próxima vez que vier à América (essa foi de sacanagem), eu espero realmente estar munido de carteira de habilitaçao para poder alugar um carro e, pelo menos, ter a sensação que acomete a nova classe-média brasileira e que eu desconheço nas minhas andanças - literalmente - nestas terras estrangeiras, de ascençao social. A ver (quando o meu chefe vai me mandar vir de novo!).


P.S.: Deixei para publicar do Brasil porque este computador nao fala brasileiro e não acerta botar acento.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Paris, 10 de dezembro de 2010

Neste primeiro dia completo em Paris, aprendi ser pouco recomendável seguir os passeios a pé do Lonely Planet no sentido contrário, particularmente quando não se vê o sol ou não se dispõe de um gps. São 14:30h e eu parei para almoçar. O restaurante está quente, ao menos perto do aquecedor - o que é bem razoável - e toca um jazz. Escolhi o equivalente ao plat du jour, já nem me lembro o preço. A opção é creme de abóbora de entrada, pato com batatas e café.
Hoje, mais cedo, no início desta quase malograda jornada, estava com terrível urgência excretora, ou, noutas palavras, uma desconcentrante vontade de urinar. Parei num café, tomei um expresso e comprei uma eau mineral que sequer abri. Ah, outra lição é que não se deve consumir água em abundância antes de se sair à rua, especialmente se a temperatura estiver em torno de 0 graus Celsius. Na verdade, não sei quanto está mais quente do que ontem, mas com certeza, abaixo dos 10 graus. Só me incomoda um pouco quando venta.
Pelo meu “plano” para hoje eu devo comprar o passe para os museus depois deste almoço. Foi uma coxa de pato frita, com batata rostie; sobremesa, um crême broulée. São 15:25h quero crer que ainda haja tempo.
Outra boa lição é que não se deve tomar Naldecon Noite às seis-e-meia da manhã, mesmo que se pretenda tirar um cochilo: dá uma leseira que eu nunca pensei possível (também, pudera, só o houvera tomada à noite).
    

domingo, 17 de abril de 2011

Sobre o entendimento (2)

Rio de Janeiro, 13 de Abril de 2011.

A primeira sobre o entendimento é esta.

Eu prefiro escolher com precisão minhas palavras para, assim, com precisão, compor minha comunicação. Vejamos, então, quanto êxito eu logro neste intento de fazer saber, a quem interessar possa, o que eu penso ou sinto, e sigamos o mote ao pé da letra. Comecemos pelo signo do AMIGO.

Certa feita, num outro momento da vida, recebi duma amiga um cartão lindo que, entre outras coisas de mesma beleza, falava sobre a importância de saber receber o amor que se lhe oferece. Corro o risco de haver perdido o cartão, apesar da intenção de para sempre guardá-lo, depois de tantas mudanças de domicílio, até de estado federado e de tantas outras coisas na vida. Ainda não sei, posso ter perdido o cartão, mas nunca o sentimento contido nas palavras de minha amiga.

Muito bem: mais do que uma frase de efeito, venho tendo ao longo da vida a oportunidade de experimentar e constatar quão importante é receber e aceitar o amor que se nos é oferecido por quem há a nossa volta; percebê-lo no quotidiano é muito menos trivial do que manifestá-lo explicitamente. Felizmente "a vida cria" ou - eu diria, simplesmente - há a realização da experiência em que o amor gratuito seja a única trivialidade imediatamente apreensível.

(Eu me repito muitas vezes neste texto. Vou seguir me repetindo.)

A lição sobre a importância de se perceber (palavra minha) e aceitar o amor que se lhe é oferecido eu devo à minha amiga Mina Kato. O encontro recente que me fez experimentá-lo eu devo à minha amiga Lysa, que me recebeu em sua casa. E esta carta eu dedico ao meu amigo Mateo, seu filho, que interrompeu seu dever-de-casa para vir até a porta e me dar um forte, longo e franco abraço de boas-vindas.

Lembre-se, neste texto, quando ler "amigo", da importância que atribuo à precisão na escolha das palavras. Por ora, que nos baste aquele signo, e deixemos os demais para outras cartas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Devaneios

De repente bateu uma vontade louca
De montar uma fábrica de esperma
Mas 'inda que alguém suporte uma gozada eterna
Toda sua produção se faria pouca

Quem de vós se propões a tal feito?
Vale a pena salientar a recompensa:
Grana, fama, orgasmo, prole extensa...
Tesão de vida, hein? Quão perfeito!

Mas, não podeis esquecer o macete:
A excitação tem que ser constante
Pois deve estar sempre ereto, o cacete

E não fazeis dos vossos membros vareta
É ruim tratá-los como objetos
Pode cansá-los de tanta punheta!

NOTA: Este é o poema que deu origem aos "Devaneios". Foi escrito entre 1991 e 1992, quando então estudante da saudosa ETFBA (quando éramos felizes e eu sabia). Eu não tenho mais cópia em papel, mas foi dos poucos que guardei de cor. Relevem qualquer coisa, eu tinha 16 anos. :-)

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Lanterna (II)

A pouca luz da Lanterna não excede uns poucos metros através da Penumbra, muito aquém donde a vista pode alcançar quando há luz. Umas tantas casas justapostas em declive contornam o estreito caminho até aquela que se chama "o buraco" por razões alheias a qualquer questionamentos. Antes, porém, o coche sobe por arruamentos também traçados ao sabor do pouso dos colonos e suas casas. É um caminho que parecia bem mais longo, por cuja razão seu fim foi de grato contento.

A penumbra é espessa o suficiente para conter a luz que jaz dentro da casa cavitante, o que ainda foge ao conhecimento do Andarilho e sua fraca lanterna. É sabido - por quem convém sabê-lo e mais ninguém - que segue o Andarilho através da Penumbra a fim, unicamente, de presentear a quem não sabe o Residente, talvez também o Visitante, se houver um, mas segue indefinidamente.

Num futuro próximo, havia o Andarilho de lembrar-se saudoso desse dia; não do que está por se suceder nesta casa, mas no que virá depois. O que gostaria se acontecesse não pôde se estender além do seu próprio pensamento.

(Continua)

sábado, 12 de março de 2011

Rascunho de Flores Rotas


Rota flor encaminhada
A porta desconhecida
Singela, mal desenhada,
Encabulada, contida

Rota flor, desenganada
Como uma causa perdida
Jaz ainda bem guardada
Rota, embrulhada, esquecida

Toma esta flor, assim, rota
Dá-lhe solo, luz e água,
Tudo que for preciso

E faz sonhar o florista
Com muitas flores a dar-te
Colhidas no paraíso.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Espelho no Fim do Dia (I)

Hoje não haverá uma próxima vez
E quanto mais durar a espera
Tanto maior será a perda

O limite não é um céu crepuscular
Nascer é o início de um caminho sem volta.




(Poema da adolescência. Veja a segunda parte.)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Maior Sabonete Reciclado do Mundo

Eu tenho pele seca, mas não costumo usar hidratante. Outrossim, tomo vários banhos por dia, o que me levou a escolher Dove como sabonete de uso regular, de forma que eu lave meu corpo e proveja alguma hidratação à minha pele. Isso é o preâmbulo.

Há uns anos, fui apresentado a um sabonete reciclado feito pela mãe de um amigo, quando ainda em Salvador. A imagem do sabonete multicolorido não me deixou mais, além de abrir ad aeternum o portal para uma nova dimensão no mundo das idéias (das minhas, claro).

Passados longos anos, resolvi, em 2009, iniciar a minha própria reciclagem de sabonetes, com a vantagem de ter o hábito consolidado de uso regular de uma marca específica de sabonete. Na medida em que iam minguando, minguando, até ficar difícil esfregar o corpo, guardava os sabonetes usados numa vasilha para a futura reciclagem. O negócio é que eu fui tomando gosto, acumulando cotocos de Dove, e o objetivo foi ganhando dimensão.

Hoje, contando 38 restos de sabonete Dove, já penso, quando eu levar a cabo meu projeto de reciclagem, irei para o Guinness pelo maior sabonete reciclado do mundo! A ver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Trilogia da Loucura*

- Triologia da Loucura*(asterisco!). Um filme com três emocionantes histórias, das quais só duas têm a ver.

Na primeira história, um adolescente passa a reagir estranhamente quando contrariado por sua mãe, desferindo-lhe tapas e ponta-pés. Desesperada, a mulher vive a saga de tentar internar o filho no hospício.

Na segunda história, um homem de meia-idade muda drasticamente seus valores materiais depois de descobrir o adultério da esposa. Desvariado, o homem rasga seu ordenado na frente da mulher, que então corre contra o tempo tentando internar o homem no hospício.

Na terceira história, um menino adquire estranhos hábitos alimentares, para a repulsa de todos, que fazem um abaixo-assinado para tentar internar o menino no hospício.

- Trilogia da Loucura*(asterisco!).

O asterisco é porque bater na mãe não é caso de internação, mas sim de excomunhão. Só os outros dois casos são loucura, o resto é gaiatice ou descaramento. O problema é que o menino não é nem batizado...

- Trilogia da Loucura*(asterisco!). Breve, nos cinemas*.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Maloqueiros do Mundo (II)

Continuando com a visão distorcida, eurocêntrica e (escroquemente) irônica do resto do mundo, quero aproveitar o comentário de (Eduardo) Rossiter sobre o texto anterior para seguir com minha análise rasa e politicamente incorreta sobre esses maloqueiros, que saem de seus países pra bagunçar os das pessoas civilizadas, a exemplo do que eu mesmo fiz e, devo confessar, com o que muito me identifiquei.

Africanos

São muito numerosos em Paris, parecem até que sempre estiveram lá de tantos que são. O negro em Paris pode ser tudo, menos exótico, de tão comum. Não estive em nenhum bairro de africanos (nem de árabes, nem de marroquinos, nem de ciganos... parecia até que eu nem era maloqueiro), mas eles são realmente numerosos e braulizam com naturalidade.

A estação de Chatelêt, perto do Centre Pompidou, no bairro - bem turístico e "alternativo" - de Marais é muito grande e movimentada, encontro de várias linhas de metrô, além do trem, com estações mais espaçadas, que cruza a cidade levando (e trazendo) o povo (e os pessoal) dos arredores. Pois bem, a saída da plataforma de desembarque se dá por umas portas que se abrem automaticamente com a proximidade de quem sai. Eu cheguei a ver uma família inteira de negões esperando a porta abrir para entrarem sem pagar numa das vezes que passei, e foram várias: homem, mulher e carrinho de bebê com ele dentro, tudo junto. Também vi negões sozinhos usando o mesmo expediente, particularmente na hora do rush, quando a muvuca é maior. Diga-se de passagem (sem pagar), foi mais de uma vez que eu saí e um africano entrou (vamos generalizar para manter o mote).

Ser negão africano é natural e corriqueiro pra gente, até porque eles se passam por brasileiros tranqüilamente até falarem, exceto os americanos ou diplomatas. Mas para os franceses, esses africanos, como eu, são maloqueiros do mundo.


Franceses

Antes que alguém me chame de racista, quero contar o reverso da moeda. Até porque só a gente que é preto é que sabe.


Numa das muitas vezes que acessei a estação de metrô Saint Georges, eis que uma moçóila muito fofinha, que é, sem qualquer esforço, o que toda típica patricinha brasileira gostaria de ser, se dirige a meu amigo e diz qualquer coisa em Francês. Ele ignora e passa direto. Eu, malandro de muitos anos de buzu, entendi que ela queria passar com ele ou qualquer coisa do gênero, para usar o metrô sem pagar passagem. - Vacilão!, sentenciei, porque deixou de tirar aquele proveito da situação, da proximidade, do contato. E aí que com muita desenvoltura a mocinha pula a catraca e acessa a plataforma de embarque. Pra quem tem preconceito de cor, não dá pra entender como uma moça, assim, de família faça uma coisa dessas. Mas os franceses não pararam por aí.

Noutro dia, na mesma estação, um rapazote, que no Brasil seria tido como "de família", com a mesma destreza, pulou a catraca e inseriu-se no sistema de transporte de massa parisiense.


É por essas e outras que o taxista recifense, com trinta anos de praça no Rio, falou com convicção:

- Eu não gosto de gringo, eu gosto é do turista brasileiro (ênfase dele, tenho testemunhas, se alguém fizer questão).

Schopenhauer e o taxista compartilham do mesmo sentimento, em particular, sobre os franceses. Em "A Arte de Insultar", diz: " Todos os outros continentes têm macacos. A Europa tem os franceses. É a mesma coisa."

Agora, cá entre nós, esses franceses vêm pra cá querendo dar uma de chiques, mas, na verdade, na verdade, eles não sabem que nós sabemos que eles, na superfície, são uns maloqueiros do mundo. Se depender daquele taxista, eles vão andar é de ônibus!

Valeu.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Maloqueiros do Mundo (I)

Quero deixar claro que este texto pode parecer politicamente incorreto. Vamos lá.

Eu, soteropolitano nato, nascido e criado na Cidade da Bahia, por muitos, e muitas vezes, tive minha naturalidade contestada.
- O quê? Você, bahiano? Não parece MESMO!
Dizem sem constrangimento. É certo que minha atual palidez não é típica de Soterópolis, ou mesmo quando era costumaz freqüentador da praia de Amaralina, nos meus saudosos tempos de Nordeste d'Aquela, também bahiano - diziam - não parecia. Emigrante de Salvador, vim morar no Rio e acabei atravessando as fronteiras nacionais.

Em Paris, tinha cara de marroquino - aliás, brasileiro tem a maior cara de marroquino - , mas acho que parecia mais bronco, talvez um típico latino-americano, não sei... enfim, e com certeza, um maloqueiro.

Os africanos árabes ou negros, os caucasianos do leste europeu, ciganos, indianos, afegãos, paquistaneses, chineses e turcos e povos semitas (exceto os judeus), descobri que são como eu, uns maloqueiros do mundo. Vejamos algumas histórias.


Ciganos I

Atravessava umas das pontes sobre o Rio Sena (falo do rio que corta Paris, não do bairro do subúrbio ferroviário de Salvador), salta aos olhos aquele objeto brilhante sobre a calçada de concreto. Distraído que vinha, continuei andando, mas minha expressão corporal não escondeu a surpresa. Do nada, aparece uma senhora apanhando o objeto, um pesado anel de ouro, que apanha o anel do chão, olha pra mim e diz algo como...
-Cest vous ? (Não sei francês, mas ela me perguntou se era meu, sem dúvida).
Respondi - non - e balancei a cabeça, também negando, e andando. Já com o anel na mão, ela falou umas coisas em francês, fez o inconfundível gesto com a mão me chamando e abriu o sorrizinho. Quando eu vi aquele dentinho encardido e um brilho na boca, pensei:
- Aaaaah, cigana...

A senhora cigana, como eu, é maloqueira do mundo.



Ciganos II

Chegando à igreja de Notre Dame de Paris, vários adolescentes se aproximaram. Como eu sou coração mole para ajudar o próximo, passei logo direto e me afastei, e Roberto ficou. Demorou um tempo e um segurança veio, todo grosso, enxotando a menina. O caso é o seguinte.

Os jovens ciganos ficam em frente aos museus, nas praças, até no aeroporto, abordando as pessoas e fazendo um gestual de que são surdas e estão arrecadando dinheiro. O curioso é que todos eles carregam uma pranchetinha e uma lista fotocopiada com o timbre de várias entidades e, no topo, da UNESCO, onde o desavisado assina o nome e assinala a quantia doada. Cheguei a ler doações de 10 a 20 euros. Vi algumas vezes esse grupo em conversa fonada entre si depois de enxotados por seguranças.

Eles têm um fenótipo bem diferente dos franceses, são bem morenos, cabelos escuros, sobrancelhas grossas. O fato é que Sarkozyputo com a Romênia, que resolveu dar passaporte europeu aos ciganos, e eles, cujo mais besta voa, tomaram o caminho da Europa. :-D

Os ciganos jovens de Paris, como eu, são maloqueiros do mundo.


O turco

Saio do hotel em Istambul, um turco, malandro, me pergunta as horas. Não que eu saiba turco, mas o gesto da pergunta é universal. No reflexo, respondo - seven ten - e prossigo a caminhada (malandragem). Foi aí que eu descobri tudo! Ele disse:
- Brazilian, really? You look like turkish!

Pura malandragem, mas prossigamos. Eu disse a ele o restaurante que estava indo e ele me aconselhou outro, que "custa menos da metade". Ele me apontou o restaurante e a rua onde a balada local pega. Eu o segui até o restaurante e ele me apontou um outro estabelecimento "pra tomar uma cerveja". Olhei da porta e havia só umas mulheres dançando e o tradicional "segurança". Entendi que o turco queria que eu entrasse no brega. Polidamente, disse-lhe
- This is not the place that I'm looking for. I'm going to the restaurant. Nice to meet you...
e entrei no restaurante onde comi um prato que nem vou tentar escrever o nome. E era comida, ao preço de 17 liras turcas, menos de 20 reais.

Assim, finalmente, descobri e subitamente compreendi que os turcos, que se parecem comigo, são também maloqueiros do mundo.