segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Refrequição

Hoje eu tenho uma refrequição pa fazê pa vocês.

Muntia vezes a gente se sentimos sem ninguém, sem uma pessoa do lado, pa fazê cafuné. E aí é condo o bicho pega no coração do cara e o cara fica baleado.

A vezes num é nem pobrema de mulé nem nada, é os pobrema que o cara tá teno no seviço; o cara chega de manhã na firma e os colega trata mal, num dá nem bom-dia po cara. Aí o cara se senta defronte do computadô pa vê os emelho aí logo de cara tem o emelho do colega que comprô no cartão pa ele dizeno que a parada tá atrasado e perguntano se ele num vai pagá. Aí, pá, o o cara tomém é de chegada e fica com a cabeça erguida. Aí o chefe pega e manda ele fazê um pagamento na rua: o cara bota o diêro no invelope, pá, e vai, a porra. Aí nem bem o cara sai do da frente do prédio da firma, tá olhando o parreco da mulé, aí o ladrão vem e baculeja invelope. A aí agora? O cara vai dizê o que po chefe? Evem o premero pipino. Eu nem vô contá o que foi que o chefe fez pa você num fica de baxo astral.

Aí, pá, o cara passa o dia e o fumo só entrano, só pobrema. Condo o cara chega incasa, depois ainda de tê perdido o carro do horaro pucaso do ingarrafamento que teve no ôto ônibo que o cara pegô até chegá na Barro Reis, ante de chegá incasa ainda, o cara vai andano pera rua dele e os pessoal tudo olhando e apontano e só rino da cara do cara. Condo o cara abre a porta de casa, tem ôto cara se saíno, aí vem a mulé inrolada na tualha dizeno:

-Num é nada disso que você tá pensano...

E aí? É pa lascá o pião em banda, vu! E isso foi só um dia só. Porque, na vida do pião, todo dia é pobrema, véi, todo dia é dia de pobrema!

Aí, ói, a refrequição é o siguinte. O cara num tem de isquentá cum porra ninhua. O ladrão levô o diêro dá firma? Azar, num é dele mermo! Incontrô a mulé cum ôto? Bota ela pá fora e arranja ôta. Perdeu o carro do horaro? Então é o sinal po cara num í pa casa naquela hora: vai cumê água cuns amigo, que puro meno o cara se diverte e esquece dos pobrema.

Pelo regulá, o cara tem de tê o coqué de tomá a ceveja dele, pegá seu baba dia de sábado ô de dumingo, tê sua nêga in casa e dá seus pulo de quando in vez e puraí vai. Condo o camarado tem essas pequena coisas, o cara veve contente e sarstifêtio. É nisso aí que o camarado tem que se ligá.

Agora você fica aí refritino que eu vô mim saíno. Já fui!


Essa é mais um emelho bala de Claudinei de Jesus Santos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Reformas ortográficas



"Provocam-nos essa lamúria as reiteradas reformas ortográficas que vimos sofrendo, partidas de brasileiros que agem ora 'motu proprio', ora em conluio com agentes de Portugal, reformas de curta duração que transformam a ortografia da língua portuguesa no Brasil em verdadeiro artigo de comércio. (...) lembramo-nos sempre que um retardatário ministro de estado surge a perturbar o ensino do idioma com medidas que obrigam alunos, professores e pais a recomeçar o embaraçoso e complicado trabalho de enfeitar nossas palavras ora tirando velhos, ora acrescentando novos adornos."



Ex
certo de Gramática Metódica da Língua Portuguesa; Napoleão Mendes de Almeida, pg. 16; Ed. Saraiva, 45 ed - São Paulo.

Napoleão Mendes de Almeida
1911 - 1998

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um Obituário para Leila Lopes

Leila Lopes morreu.

A atriz Leila Lopes, a "Professorinha Lu", de Renascer - a novela de Painho - foi encontrada morta em sua residência: uma pena.

Há muito que ouço sobre a atriz da Globo, "Leila Lopes", que resolveu fazer filme pornô. Sempre me perguntava: "quem é essa Leila Lopes?", e as respostas nunca me esclareciam. Hoje, aos 04 de Dezembro de 2009, seu óbito era manchete de capa de alguns tablóides do Rio de Janeiro, entre os quais o Meia-Hora, que fazia referência à personagem da Professorinha Lu.

Esse foi o ponto de partida na busca de alguma imagem guardada em minha memória
da novela Renascer; foi difícil chegar à Professorinha, mas logrei-o. Lembrei-me aos poucos daquelas personagens destacadamente marcantes da novela, que, se comparados aos da professorinha, de Painho, Zé Venâncio, João Pedro, tinham muito mais responsabilidade sobre a trama, embora representassem a saga de um oligarga e seu trauma pelos filhos fracassados, um dos quais casado com uma moça hermafrodita, a Buba, o mais novo que matou a mãe de parto e o outro que era filho de Tarcísio Meira.

Painho e João Pedro estrelaram várias outras novelas usando outros nomes, mas limitemo-nos a Renascer. Penso que a tragédia de Leila Lopes poderia suceder a qualquer um, especialmente a Buba, mas vem justamente onde o país é carente, na educação. Assisti àquele filme com Buba, "Querô", em cuja trama ela morre logo e o filme até melhora. Buba também foi apaixonada por Engraçadinha quando ela ainda era ordinária e, se não me engano, tentou seduzi-la depois de lhe ofecerer lança-perfume.

Eu fiquei triste que a Professorinha Lu tenha ido para a Escola do Além, mesmo depois do filme de sacanagem. Afinal, qual aluno não gostaria de tê-lo assistido?

Descanse em paz, Professorinha.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu Degelarei o Congelador com o Secador de Cabelos

Eu pedi um secador de cabelos emprestado e me esqueci de trazê-lo. O congelador está cheio de gelo, depois de tanto tempo sem degelá-lo.

A geladeira é fuleira e fica congelando o tempo inteiro. Eu não quero passar a noite no degelo para secar o congelador molhado pela manhã, mas aplicar um jato de ar quente na base do gelo para soltá-lo em placas e secar com um pano a água excedente.

Eu fui embora e me esqueci do secador de cabelos...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Lula: O Filho do Brasil


"Lula é um trabalhador-operário-metalúrgico-torneiro-mecânico do ABC Paulista. Em mais um dia de trabalho, Lula se distrai e perde a cabeça do dedo no torno. Confuso e atordoado, procura a cabeça do dedo no chão-de-fábrica e a enrola num pedaço de estopa. Seus companheiros de trabalho olham o sangue esguichando e se divertem com a tragédia do companheiro (ô raça é peão!). Aturdido, choroso e decepcionado, Lula pega a cabeça do dedo enrolada na estopa, olha para os companheiros e promete:
- Vofês vão ver, eu vou cofturar a cabefa do dedo e vou fer previdente do Bravil."


Da platéia, ouve-se o brado indignado:

- É assim que você me paga!!!

É mais um espectador insatisfeito com o governo fazendo sua catarse.

domingo, 15 de novembro de 2009

Discurso de Formatura

Menos que um discurso, esta é uma carta aberta de cujos cinco remetentes eu sou o porta-voz. De antemão é imperativo registrar-se neste momento que não há outro motivo para trazer-vos estas palavras senão o júbilo e o regozijo que compartilhamos convosco, de sermos nós cinco dignos de protagonizarmos esta cerimônia.

A despeito de nossas idades, é visível em nossas faces que o prolongado repouso no berço das Academias consome significativamente a juventude, com o quê pagamos pelo universo de conhecimento que se nos disponibiliza e pelas possibilidades que se nos revelam. Mas, se disso não tivermos tirado o devido proveito, corremos o risco de descobrirmos futuramente não ter valido a pena qualquer abstinência em favor do cumprimento de nossas atribuições enquanto estudantes universitários.

É desejável também que saibamos ser nosso dever sermos mais aptos a resolvermos os problemas com que deparar-nos-emos do que os nossos concidadãos que não estiveram na universidade; e isso implica maior responsabilidade para com a sociedade e para com o Estado Brasileiro. Não que o diploma confira-nos o título de "donos-do-saber'', de maneira alguma, mas que a formação universitária, distintamente, nos tenha permitido conhecer a metodologia científica. Sim, pois ao contrário do que se possa pensar, os laboratórios de pesquisa não são a única morada da metodologia científica, que admite sua aplicação em tarefas comuns a qualquer pessoa, como arrumar uma casa ou cozer um alimento.

É fato que a posse do diploma causa certo temor pelo devir. Mas ante à impossibilidade de retroceder, prossigamos. Ao sairmos por aquela porta, provavelmente o mundo parecerá exatamente o mesmo aos nossos olhos, exceto pelos novos lugares que ocuparemos a partir de então, inexoravelmente.

Sem mais delongas, depedimo-nos.

Salvador, 28 de abril de 2001.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre o Cachorro na Janela do Carro

Seguem a mãe, o filho e o amiguinho pela rua. A mãe mostra ao filho o cachorro na janela do carro e o amiguinho logo dispara:

- E se ele fizer cocô na cara do home?

Que menino sagaz!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Você, Abu Zou

Siu quadra dizmo dosmeu verços
Vaidin com trauin telec, tu
Que não uso coração comes pressão

Você, Abu Zou
Giro batido dimin, Abu Zou
Giro batido demin aviso
Giro batido demin aviso

Quer não? Faz mal.
Seu conheço essitemaVocêSenão sei fazer poê -maô-can são
Quefa lidjô tracoiz aqui não sejamô (repete)

domingo, 6 de setembro de 2009

Eu Desembasso o Espelho com o Secador de Cabelos

É uma das coisas mais divertidas que pode haver nos hotéis. A provisão dum secador de cabelos no banheiro torna os pós-banho muito mais entretenente. Não me recordo qual foi o primeiro hotel em que me hospedei onde havia um secador no banheiro, mas o fato é que eu comecei e não parei mais.


A idéia remonta experiências anteriores. Lembro-me de meu pai com o ventilador ligado voltado para o congelador aberto, a ventilação aumenta a troca de calor e, portanto, o degelo. Quando morei com minha prima, pensei experimentei mais intensamente a idéia num dia em que ela usou o eletrodoméstico para também acelerar o degelo. Eu sabia que~meu dia não tardaria a chegar.

Eis que, na vez seguinte em que viajei a trabalho, lá estava o secador ao lado da pia. A água caía, o vapor subia, eu monitorava o condensar sobre o espelho, aquelas gotículas de água a turvar minha imagem; era para meu bem. Saído do banho, empunhei o secador, liguei-o no máximo e aproximei-o do espelho. Vê-lo desembassar a primeira vez por esse processo foi singular.

Sempre que eu viajo e me hospedo num hotel cujo banheiro do quarto tem secador de cabelos, eu sei quão prazeroso será o pós-banho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A Lanterna ( I )

O horizonte parece sombrio se visto de meia-altura, erguer-se dá alguma vida a certa luz que possa haver ao longe. Deste ponto, pouco se sabe - e nem mais do que isso é possível - sobre o que pode haver além, porque mesmo a pouca luz não permite discriminar a existência de mais de uma feição. O homem, o prudente, traz sempre consigo a lanterna, pensa que pode ver mais ao aproximar-se da linha.

Os matizes do horizonte parecem, ao homem, pobres de cor. - Os matizes do horizonte me parecem sempre pobres de cor... - pensa, com a lanterna. Esta, pois, é a história do homem e a lanterna para iluminar o horizonte.

Já lhe ocorrera outras cores alhures quando de janelas fechadas em sua casa. Os olhos cerrados abrem-lhe as portas do mais imaginavelmente infinito dos mundos. A vigília, menos que uma demanda do corpo, é condição suficiente para digredir através do imaginário. Ao contrário de quando se lhe abrem as portas e janelas para o horizonte, vê assim matizes e cores vários, prefere, porém, os mais foscos, de pouco brilho. Cumpre dizer que se chama Gregório, filho de Brás e Maura. Sobre seus irmãos também há histórias que, por muito longas, não cabem em mais do que breves menções, quando oportuno.

Não se trata duma história sobre o cinza ou sombra, como pode-o parecer. Aliás, é mesmo possível que Gregório tenha importância menor em relação a seres inanimados como, por exemplo, a própria a lanterna. A propósito, confiramo-lhe um ânimo primitivo e, doravante, chamemo-la "A Lanterna". Há um mundo, além da janela, onde a noite é conto do sonhador, é escuro e só Gregório pode portar "A Lanterna", o que não chega a ser um privilégio simplesmente porque não há outrem, quer possa portá-la, quer não possa, enfim, não há outrem, inexoravelmente. É preciso crer num futuro propósito para a criação deste cenário logo agora, ou a constatação da dependência da ordem dos fatos pode inviabilizar a verossimilhança da realidade ordinária, futuramente experimentada pelas partes. É um risco, intrínseco a qualquer decisão.

Abertas portas e janelas, o horizonte parece cinza, quando visto a meia-altura, como já se disse ver Gregório. Um passo à frente da porta, ascende A Lanterna. Há quem diga e conte as cores do horizonte, as quais Gregório tem muito vaga idéia do que sejam (sabe-as pelos contos dos velhos). A Lanterna sabe as cores e está um passo mais próxima do horizonte.

(Continua).

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crítica a um filme

Que filme rúim da porra!!!

Mantra (telefônico interrogativo)

.
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É da ca' de Guiguio?

É da ca' de Dadai?

É da ca' de Nén?
É da ca' de Nái?
É da ca' de Guiguio?

É da ca' de Dadai?

É da ca' de Nén?
É da ca' de Nái?
É da ca' de Guiguio?

É da ca' de Dadai?

É da ca' de Nén?
É da ca' de Nái?
É da ca' de Guiguio?

É da ca' de Dadai?

É da ca' de Nén?
É da ca' de Nái?
É da ca' de Guiguio?
.
.
.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sobre "Quem num tem emelho ximba"

Quem num tem emelho ximba!

É um texto meu, com a colaboração do meu amigo Fábio Bastos. Fora, de fato, escrito aos 03 de Novembro de 2000 na então "Sala de Iniciação Científica" dos estudantes de graduação em Geofísica, no Instituto de Geociências da UFBA, cidade do São Salvador da Bahia.

O que publiquei aqui é uma cópia da mensagem recebida pelo Professor Nelson Pretto (http://www2.ufba.br/~pretto/emelho.htm), da Faculdade de Educação da UFBA, encaminhada por algum dos meus amigos que eram alunos seus ou desenvolviam algum trabalho consigo naquele período.

A estória é uma paródia sobre um texto que circulava na época que tratava duma entrevista a um homem que se tornara empresário de sucesso no comércio de frutas, sem qualquer uso de das facilidades providas pela rede. Ao final da entrevista ele deixa claro que aquilo tudo aconteceu devido à perda duma oportunidade de emprego na Microsoft justamente por não dispor dum endereço eletrônico (e-mail) para receber o contato da empresa. Até aqui, os fatos. Vamos à historia.

Penso que no início da década de 80 o rótulo de "brown" servia para estigmatizar o comportamento social dos pobres em Salvador, em sua maioria negros e pardos. O termo em inglês rapidamente fora aportuguesado para "bráu" - que eu acho muito mais legal - e essas ditas "coisas de bráu" tornaram-se mais comuns e aceitas, mas ainda admitindo alguma caricatura. Desde a infância que tenho contato com esse universo e sempre me diverti no exagero dos gestos e da fala desse grupo, por assim dizer, muito mais numeroso e representativo da sociedade soteropolitana do que qualquer outro. Enfim, resolvi grafar o divetimento no texto "Quem num tem emelho ximba" que não só emprega aquele linguajar com alguma propriedade, com também explora outros aspectos da realidade socioeconômica dessa parcela da sociedade.

Tudo se deu muito despretensiosamente e o texto, para minha surpresa, vem se transmitindo até hoje e repercutindo de maneiras muito inusitadas. É, por exemplo, referência em cursos de extensão universitária (http://www.faced.ufba.br/~bonilla/conectunemat.htm), fonte de discussão sobre exclusão digital, texto teatral, de estudo sobre uso da língua, além de estar publicado em blogs dos mais diversos.

Há muito que meus amigos me pedem para publicá-lo eu mesmo, o que faço aqui, revelando, enfim, as verdadeiras identidades de Jonilson (que erra o próprio nome) e Claudinei.

Quem nu tem emelho ximba!

---------- Forwarded message ----------
Date: Fri, 3 Nov 2000 12:34:25 -0200
Subject: Quem nu tem emelho ximba


Aí galera,
Esse emelho é de Claudinei, mas aqui é Jonilson que tá falando. É porque eu não tenho emelho aí ele me liberô pra escrevê no dele. E eu quero falá é sobre isso mermo: emelho. A parada é o seguinte. Ôto dia eu tava procurando um serviço no jornal aí eu vi lá uma vaga na loja de computadô, aí eu fui vê lá, colé de mermo. Botei uma rôpa sacanage que eu tenho, joguei meu Mizuno e fui lá, a porra. Aí eu cheguei lá, fiz a ficha que a mulé me deu e fiquei lá esperando. Nêgo de gravata e as porra eu só "nada... tô cumeno nada!''. Aí, eu tô lá sentado, pá, aí a mulé me chama pa entrevista, lá na sala dela. Mulé boa da porra! Entrei na sala dela, sentei, pá, aí ela começô: a mulé perguntano coisa como a porra, seu sabia fazê coisa como a porra e eu só...''sim sinhora, que eu já trabalhei nisso já", jogano 171 da porra na mulé e ela cumeno, a porra! Aí ela parô assim, olhô pra ficha e mim perguntô mermo assim: "você mora aí, é ?'', aí eu disse "é''. Só que eu nun sô minino, botei o endereço de um camarado meu e o telefone, que eu já tinha dado a idéa já pra ele se ela ligasse pá ele dizê que eu sô irmão dele e que eu tinha saído, pra ela deixá recado, que aí era o tempo dele ligá pro orelhão do bar lá da rua e falá comigo ou deixá o recado que a galera lá dá. Eu nun vô dá meu enedreço que eu moro ni uma bocada da porra! Aí a mulé vai pensá o que? Vai pensá que eu sô vagabundo tomém, né pai... Nada! Aí, tá, a mulé só perguntano e eu jogando um "h'' da porra na mulé, e ela gostano vú... se abrindo toda... mulé boa da porra! Aí ela mim disse mermo assim: "ói, mim dê seu emelho que aí quando fô pra lhe chamá...- a mulé já ía me chamá já - ... quando fô pra lhe chamá, eu lhe mando um emelho.''Aí eu digo 'porra... e agora' ?''. Aí eu disse a ela mermo assim "ói, eu vou lhe dá o emelho de um vizinho meu pra sinhora, que ele tem computadô, aí ele mim avisa''. Mintira da porra, que o cara mora longe como a porra e o computadô é lá do trabalho dele, aí ele ía tê que mim avisá pelo telefone lá da rua. Aí, depois quando eu disse isso, a mulé empenô. Sem mintira niua, ela me disse mermo assim: "aí, não: como é que você qué trabalhá ne loja de computadô e não tem emelho?" . Aí ela bateu no meu ombro assim e disse "Ói, hoje em dia, quem num tem emelho, ximba!'', falô mermo assim, véi, a miserave da mulé. Miserave! Mas aí, eu ía fazê o que, véi?


Aí uns dias depois eu acabei conseguindo um seviço de ajudante de predero: um pau da porra! Eu pego 7 hora da manhã e leva direto, a porra, de 7 a 7, aí meio dia para pra almuçá, comida fêa da porra, e acabô o almoço nun discansa não, volta pro seviço. É pau, vú véi... é pau viola mermo. É por isso que eu digo, é como a mulé disse: "quem nun tem emelho, ximba!''. É isso aí. Os cara que nun recebero esse emelho vai ximbá, na moral, dá um pau da porra, quando chgá fim de mês,recebê uma merreca. Agora pra você que recebeu esse emelho, eu vô lhe dá a idéa, ói, vá lá na loja que ainda tem a vaga! Já fui! Esse emelho é de Claudinei, mas aqui é Jonilso que tá falando. Valeu!


Jonilso.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Minha novela

Há muitos anos tenciono escrever uma novela. Ao contrário das ordinariamente exibidas, minha novela não deixará óbvio o desfecho já no primeiro capítulo, como é costumaz na teledramaturgia brasileira. Será a quebra dum paradigma, pois vai acabar de uma vez por todas com as revistas da TV. Eu mesmo, que não assisto novela, acompanho as capas e entendo tudo.



Será assim. Nenhum personagem participará de mais de cinco (05) capítulos, necessariamente os de segunda a sexta; o sábado será para as cenas dos próximos capítulos, apresentadas aleatoriamente, cabendo ao expectador ordená-las mentalmente; cada ator será protagonista em apenas um capítulo e coadjuvante nos outros quatro, Sempre com menos importância que no anterior (ou seja, cada personagem já aparece como protagonista do capítulo). Terá no elenco mais de 300 atores principais, entre os quais Francisco Cuoco, Claudio Marzo, Claudio Cavalcanti, Tarcísio Meira e, no dia em que todos contracenarem, será idêntica a algum capítulo de Irmãos Coragem; terá ainda José Wilker, José Mayer, Taumaturgo Ferreira, Claudio Vereza, Ricardoo Macchi, entre tantos outros.



Haverá muitos closes dramáticos, erros de concordância e algum barbarismo; uma personagem (do sexo feminino, distinção feita no artigo) concentrará todos os tabus já tratados em novelas da TV Globo: a mulher será lésbica, negra, mãe solteira, usuária de drogas, deficiente física, prostituta de rua, hermafrodita; amará demais, terá sotaque estrangeiro e morará nalguma cidade da Bahia. Ah, será medium. (Posso atualizar este texto acrescentando características à personagem). E, na sua última aparição, será vítima do Tesoureiro Maluco, interpretado por Guilherme de Pádua.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Apêndice de raiz

Há uma semana eu estava em New York City, onde fiz muitas coisas e deixei de fazer outras tantas - paciência - o que não chega a ser problema.

Entre aquilo que fiz consta uma travessia de Manhattan para Staten Island, quando se pode ver a Liberty Statue mais de perto, menos apenas que uma visita `a própria, o que custa algumas horas de espera na enorme fila; bastava-me ver da balsa.

No retorno a Manhatann eu gravei este vídeo da atracação da embarcação e, por um lapso, fui raptado por uma raiz do inconsciente coletivo soteropolitano (se me permitem atribuir um locus ao inconsciente coletivo os doutos em Freud), que veio aerar-se naquela ilha, tendo la deixado uma pérola. Vale.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

VOO 447 DA AIR FRANCE

Recomendo a consulta aos informes diretos da Força Aérea Brasileira (FAB) por serem oficiais e baseadas em fatos. Tenho acompanhado pela imprensa através da internet e são estarrecedoras a pobreza e parcialidade das corporações de comunicação em massa brasileiras. Visite http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=3089 (Centro de Comunicação Social da Aeronáutica). Vide também https://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/imprensa/nota_a_imprensa_mb.htm (Centro de Comunicação Social da Marinha).

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Celebração da liberdade I

Poucas, muito poucas, pouquíssimas, raríssimas oportunidades são tão singularmente libertárias como a que me permitiu fazer este registo, convosco agora compartilhado.

Eis-me, do cimo da realeza que o Céu me confere, a proceder a dactiloscopia destas palavras, como que ditadas ao escriba da corte ao pé do trono real. Não podeis, senhores, não podeis compreender quão jubilosa minh´alma neste lapso de celebração da Liberdade. Vale.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A Fear Fading Experience in Texas (em português)

O medo constrange a vida em seu fluxo através do tempo, que passa a seguir meandrante, ou pior, é represada, contida . É redundante associar vida e tempo, o que poucas coisas, entre as quais o medo, são capazes de separar, e o faz com precisão e eficiência: o tempo passa e a vida desvia-se e segue desgovernada.

É preciso vencer o medo e aproveitar o tempo que resta, sem lamentar o que foi perdido. Eis aqui um exercício, sem importar o devir.

sábado, 9 de maio de 2009

Ordem (a novela do cachorro)

O Governador Sérgio Cabral quer dar a sua ORDEM. Mas ordem de governador tem grande comprimento de onda, não atinge as coisas pequenas, como são as pessoas.

A pessoa passa por entre os carros no congestionamento depois de descer do ônibus, perto do Instituto de Geociências. Chegando em casa a palavra ORDEM não sai do pensamento, e o cachorro está ali, ainda filhote. Em quem ele se transformará? É preciso esperar o cachorro crescer.

O televisor permanece ligado e pode-se ver que passa a transmitir o crescimento do cachorro. Ele cresce, cresce, cresce, numa progressão de instantâneos do seu focinho, que vai ganhando feições mais grosseiras, como as dos adultos em relação às das crianças. É a ordem do governador...

Adulto, o cachorro se chama Hermano ou Antônio, e sai andando entre os transeuntes no Relógio de São Pedro. A ORDEM do governador tem longo comprimento de onda, vai contornando as pessoas, que são coisas pequenas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Para ser lido em voz alta

Á-a. A-á-a. A-á a-á a-á-ba
Á-wa. a-á-wa. A-wá a-wá a-á-bwa
A-á-a a-wá-a. A-á a-á a-á-ba

A-á-ba. A-á-ba. A-a-a-a-a-á-a

A-a-a
A-á-ba
A-ba-wa

(Enquanto isso)
Bum!!! Sha-ka-la-ka... Bum!!! (bule-bule-bule)

Prefácio

Quando criança, sentia-me livre para crer que possuía um veio literário; e eu o cria. Tinha motivos para isso: compunha boas redações na escola, escrevia poemas nos freqüentes momentos de inspiração, contemplava e refletia sobre o mundo à minha volta. Não era exatamente uma criança ou pré-adolescente prodigioso, mas me debruçava sobre questões que hoje me parecem profundas, às quais ou já foram superadas, ou já não dou importância, ou simplesmente deixaram de fazer sentido. O tempo passou, eu cresci um pouco, e, neste 07 de fevereiro de 2002, aos 26 anos, eis que me vem tal lembrança e cá estou a escrever-vos este prefácio do resto da vida. Não o faço agora por pensar manifesta aquela "criatividade tamanha", pois que se mantém tão latente quanto tem sido por todos esses anos (uns dez, mais ou menos), mas acho que me devia esta reflexão e conforta-me mais compartilhá-la convosco.


Completados 18 anos de idade, quis não amadurecer até o décimo nono e lamentei ter ido além do décimo sétimo. Fatalidade inexorável, não pude evitar. Nessa época cursava o quinto semestre de Instrumentação Industrial na então Escola Técnica Federal da Bahia; um tempo em que éramos felizes e eu sabia (mas isto já é outra história). Vislumbrava o fim do curso técnico e a busca por emprego, por uma vaga na universidade; era o momento de por em prática algum projeto de vida onde, pelas circunstâncias, não mais cabia o de um visionário literato; foi p primeiro momento da vida que julgo ter tido motivo para temer o devir. Já não tencionava escrever um romance, livro de crônicas ou poemas, mas vez por outra encontrava as palavras certas, às vezes numa carta, numa frase solta que me vinha à mente; não era muito freqüente, mas me satisfazia. Talvez as cartas tenham sido as minhas principais manifestações literárias, além de as mais originais. Eu gostava tanto de algumas que cogitei catalogá-las e arquivá-las, não para publicação futura - ou talvez para isto mesmo, publicá-las na rede, como agora -, mas, quem sabe, para documentar literariamente a minha passagem sobre a Terra, constituindo uma memória remota da minha vida, à parte da minha cabeça, que deveria ater-se a demandas mais relevantes. A motivação para isso surgiu da correspondência com o meu amigo Alexandro Oliveira Nunes, o "Bunito", que mudara-se para São Paulo. Recheada de um humor sutil, às vezes negro e ácido, absurdo, e de metáforas compreensíveis apenas para o seleto "Grupo dos Quinze" (ETFBA, 1993), a nossa correspondência era muito profícua. Guardei algumas cartas, mas ainda não sei se publicá-las-ei aqui.


De qualquer forma, a despeito de qualquer talento para a literatura, o fato é que eu já escrevi um livro: "Em Busca de um Destino". Eu contava doze anos de idade e cursava a sexta série no Colégio Nossa Senhora das Mercês, no centro de Salvador. A professora de Redação passou como trabalho para avaliação da 4a unidade, a escrita de um livro. Para tanto, dividiu a turma em equipes, deixando o tema de nossa livre escolha. Isso representava a realização de um sonho e eu não perderia essa oportunidade: tomei a frente da minha equipe, criei a estória e distribuí os capítulos entre os integrantes. Não sei se não fui suficientemente claro ou se era personalista demais, mas aconteceu que o que eles trouxeram distoava um pouco da idéia original. O principal problema foi o fato de alguns capítulos terem sido escritos em terceira pessoa, enquanto deveria sê-lo na primeira, originalmente. Algo tinha de ser feito. Eu tomei todos os manuscritos e reescrevi quase tudo. Consegui respeitar a idéia de cada um, eu acho, apenas procurei concordar o que eles escreveram com o início da estória, que ficara por minha conta, assim como os capítulos finais. Era uma aventura ambientada nos anos 40, narrada em retrospectiva pelo protagonista, cujo nome já não me recordo, para os dois netos. A estória é a de um homem que vai passear em Caracas e é preso por um assassinato que ocorreu numa praça pública onde se encontrava; é condenado a cumprir pena na prisão insular "Sarcófago do Diabo", no Sul da Argentina. Lá, conhece outros presos que planejam e executam uma fuga: alguns conseguem, outros sucumbem. É um sofrimento só até o homem conseguir voltar a Salvador, onde é novamente preso, mas desta vez julgado e inocentado.


Em 1996, uma seqüência de imagens e palavras fez-me crer que eu repetiria aquele feito: era mais um livro que se me anunciava. Escrevi alguns capítulos, mas não cheguei a desenvolver o enredo mais profundamente. Uma pena, pois a estória tem tudo para ser bonita. Sério mesmo! Tem título e tudo. Chama-se "Apêndice no Tempo" e conta os sonhos de uma noite de sono sob a ótica do sonhador (que sou eu) que se transmuta em dois sujeitos: Aurora, que atua no sonho, e o Observador, que assiste a tudo e representa a consciência do sonhador; não tem a pretensão de encerrar qualquer moral, nem fazer quaisquer reflexões, mas apenas narrar um sonho imaginário com algum lirismo. Além de um pedaço do começo, escrevi também o final. Não sei se hei de concluí-lo algum dia... Na verdade, isso nem é primordial, porque no fundo, no fundo, eu já me dou por satisfeito em concluir dizendo "(...) os sonhos são apêndices no tempo". Isso ainda está manuscrito a lápis, na minha agenda de 1995 ou 1996, não me recordo agora, mas ainda tenho ambas.


Eu ainda penso em dar vazão ao meu pretenso "veio literário", mesmo ante à possibilidade de já ter se esvaído, ainda mais agora, com o advento do correio eletrônico. Ademais, o meu projeto de vida está bem mais claro e, sobretudo, em curso. Aproveito os lapsos de inspiração para me divertir com pensamentos, que acabaram dando origem a uma secção neste sítio, por sinal, muito pobre por falta de transcrições freqüentes daqueles contos. Hoje, vejo muito distante do que eu realmente considero um sonho, que é ser cineasta, até porque tenho a clareza de que muito dificilmente obteria as respostas que busco. Eu poderia pensar em mudar de projeto, mas se o fizer e tudo der certo, eu serei um cineasta real e não é isto o que eu quero. Prefiro escrever e dirigir os filmes no meu próprio universo, onde minha realização é plena. Ao que tem me parecido, este projeto ficará para outra vida; para esta, fartar-me-á de satisfação e regozijo responder a quem quer que me escreva para compartilhar comigo a narrativa que este prefácio inicia. Boa leitura.

Salvador, 08 de fevereiro de 2002.

Juventude Amalucada

Estamos aqui com , autor do livro Juventude Amalucada, a ser lançado neste sábado, às 19 horas, na Livraria da Travessa de Ipanema.

P - E aí, Claudio, onde você buscou inspiração pro seu livro?

R - Hoje em dia tem muita gente doido no mundo. Essas pessoa que eu tento falar delas.

P - Como surgiu a idéia do título?

R - Ía ser Juventudes Amalucados, aí um amigo meu me disse que era pra ser Juventude Amalucadas, com o "si" no final. Aí, na hora de escrever, eu me esqueci do "si" e ficou assim, Juventude Amalucada, ficou legal, falando dos joves amalucado.

P - Você pensou em alguém, particularmente?

R - Não, tudo que eu fiz nesse livro foi conversano com os amigo, num foi nada particular, foi tudo, assim, público, em quem você tenha pensado ou não?

R - Ah, sei lá... Hoje em dia tem muita gente louca e... assim, sei lá, nessas pessoas que eu pensei.

P - Você dedica seu livro a alguém?

R - Primeiramente a Deus, segundo lugar a meu pai e minha mãe, que sempre me dero de tudo e foi quem me trouxe no mundo, e por último a todos vocês que tá me assistino.

Muito obrigado pela entrevista e sucesso.

- Valeu.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Caipora

Minha primeira experiência com a Caipora aconteceu na localidade do Chame-Chame, em Salvador. Quando o fato se deu, entendi as ocorrências no mínimo estranhas, por época da inauguração do Shopping Barra, envolvendo vitrais de escadas rolantes. Comentou-se na época - idos de 1987 - que o empreendimento fora erguido sobre um antigo cemitério indígena. Bobagem, a assombração era outra.


Em 1998 eu me mudei para o Chame-Chame, exatamente para a Rua Norma... não me lembro; esquina com Ary Barroso, enfim. Eu circulava pelo Chame-Chame para quase tudo, bastava sair casa. Um dia precisei ir ao Shopping Barra... aliás, não, fui com Vera, minha colega, porque ela precisava fazer alguma coisa relativa a sua conta de telefone. Havia uma ala inteira destinada a serviços, onde a companhia telefônica ocupava maior espaço. Passei várias vezes em frente ao lugar, e nada. O shopping tem uma arquitetura radial e eu entrei em todas as alas, de todos os pisos, e não encontrava o lugar. Uma busca de não mais do que cinco minutos levou mais de quarenta, até que encontrei. Ufa! Quando cheguei lá, me veio o lampejo: foi a CAIPORA.


Desde então passei a prestar atenção e constatei ter sido várias vezes pego pela Caipora em minhas andanças pela cidade do São Salvador da Bahia (e olhe que batia perna). Amigos meus me contaram episódios que protagonizaram, de se perderem em lugares conhecidos, de irem alhures (e até nenhures, mas aí, quase sempre, tinha fumança no meio); adverti-lhes: foi a CAIPORA.


Eles ficaram atentos e a partir de então contamos uma quase infinidade de atuações da Caipora na Capital e interior. De que a Caipora estava viva e ativa, não se tinha mais dúvida, era senso mais que comum. Só não sabíamos ainda quão amplamente. Nessa época, algumas lembranças começaram a ter razão.


O primeiro relato realmente verossímil sobre a Caipora fora-me feito pelo meu amigo Mazinho quando eu contava uns doze anos de idade.
- A Caipora pegou mãe ni São Joaquim (1), condo ela deu por si, tava na Lapinha.
Fazia sentido. Agora, relembrando, várias perguntas vêm à tona: ela subiu o plano-inclinado Liberdade-Calçada? ela subiu a ladeira de Água Brusca? a do Canto da Cruz? a enconsta do Santo Antônio? O povo dizia - Porque, uma coisa é certa: ônibus, ela não pegou... O plano, ela podia ter subido de escada, porque quando a pessoa tá virada na Caipora, não age por si, só sente dor quando acorda! - o povo já gosta de aumentar, nem tem ônibus de São Joaquim pra Lapinha. Fato é ela acordou sem dinheiro e sem a sacola da feira. Pobre de Dona Guiomar.


Depois que saí de Salvador, achei que não veria mais dessas coisas, mas eu estava errado. Vim para o Rio de Janeiro e a Caipora já me pegou pelo menos três vezes da mesma forma, fora as outras. Eu preciso ir a um certo bairro uma vez por mês, donde sempre volto de ônibus para casa; há, porém, uma única linha, que eu me lembre, que não serve, o 157. Peguei-o uma vez, deu-me um branco, não fiquei de todo desacordado, foi muito rápido. O ônibus andou uns 200 m e entrou, quando deveria seguir em frente. Eu senti um negócio estranho, não sabia o que era, rapidamente descobri; entrei num ponto, saltei no outro: foi a Caipora. Noutro mês, peguei de novo o 157, aí ele dobrou: foi a Caipora. Em outro mês, de novo. As lições que ficam é que a Caipora atua no Rio de Janeiro e anda direto de 157 .


Assim, não resta muito o que fazer. O negócio é evitar sair sozinho e rezar pra não acordar em lugar estranho. No mais, se a Caipora lhe pegar, você só vai saber da história pelos outros, e, depois, é só cantar


Tererê, tererê, tererê
Tererê, tererê, tererê
Tererê, tererê, tererê
CAIPORA


e fazer a dancinha. E só.


(1) Ele se referiu à Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Chegada de Tatu Abala Paulicéia

Da redação.

Na manhã do último sábado, dia 26, Tatu Campos desembarcou no Terminal Rodoviário do Tietê. Enquanto dirigia-se para a estação do metrô, tudo por que passava se transformava: a ela seguia-se uma ventania que carregava latas de lixo, bancos e pessoas; algumas, por outro lado, voavam espontaneamente graças ao poder que Tatu lhes conferia.

Os passageiros daquele trem do metrô de São Paulo não faziam idéia da viagem que fariam até a Estação Ana Rosa. Quando Tatu entrou no vagão, uma luz muito intensa brilhou no céu e vários prédios vieram abaixo. Em seus lugares, brotavam árvores gigantescas que cresciam até as nuvens. O chão começou a tremer e as pessoas entraram em pânico. Quando o trem partiu, a linha já não era a mesma, pois logo na saída, os vagões descreveram uma volta de 360 graus em torno do próprio eixo, mas a cadeira em que Tatu sentava permaneceu em movimento horizontal, visto que desprendera-se do piso, flutuando inatingível no meio do vagão. O trem subiu, desceu e fez uma infinidade de corrupios, seguindo uma linha que até então não existia.

Chegando na Estação Ana Rosa, Tatu desceu e as transformações continuaram. O céu de São Paulo brilhava e irradiava um azul nunca visto depois do seu primeiro motor a combustão. Tomando um outro trem até a Estação Clínicas, fê-lo mover-se a uma velocidade comparável à da luz, tal que os passageiros sentiram-se teletransportados. De lá, cansada dos meios de transportes convencionais, voou até o Alto de Pinheiros, que está agora muito mais alto, depois da ascensão de uma montanha que elevou todo o bairro, de onde é possível ver a cidade em sua totalidade.

A prefeita Marta Suplicy decretou estado de sítio a fim de facilitar os trabalhos da polícia, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Exército de adequação da população à nova fisiografia da cidade. Apesar de presa em suas casas, a população está satisfeita com a nova paisagem da cidade. "Num vejo a hora de pudê saí de novo pá as coisa que Dona Tatu fez pra nóis!" diz Dona. Maria, lavradora baiana de Inhambupe, em São Paulo há dois anos.

As autoridades acreditam que seja possível decretar o fim do estado de sítio nas próximas 24 horas, quando Tatu provavelmente já estará em Petrópolis, levando a sua nova ordem àquela cidade.

Date: Fri, 1 Jun 2001 10:00:29 -0300 (GRNLNDST)

domingo, 26 de abril de 2009

O Salto

A ausência constante
A luz, o nada, a parede fria
Os olhos parados, calados
À espera do fim do dia

E a luz se apaga
E o mundo dorme
E o calor dá lugar à ventania

E quando o silêncio
Alcançar o pico mais alto
Talvez seja o momento exato
De precipitar-se ao salto...

Por Eduardo Campos, Eduardo Rossiter, eu e Leonardo Campos.
Salvador, entre 1991 e 1992.

Londres, 27 de fevereiro de 2009 (I)

Acordei às 8:00h quando o despertador tocou, cochilei, levantei-me às 10, hora em que se encerra o café-da-manhã no hotel. Saí para ir novamente à National Gallery para ver novamente os quadros de van Gogh e a exposição de Picasso. Passei na Queensway para tomar café. Fui a um mercadinho e comprei dois somosas (pastéis) com um café americano, um espresso diluído. Eu pedi só um e ele entendeu dois: comi-os ambos dois. Aproveitei para voltar ao hotel e fazer uma higiene bucal. Tornei a sair para cumprir meu plano.

Fui da estação Queensway até Tottenhann Court, e de para Saint Cross: não precisava tudo isso, bastava ir até a Leicester Square, a duas quadras da Trafalgar Square, onde fica a National Gallery. Saí da estação e comecei a seguir as placas que indicavam o caminho do British Museum*, até o tempo de caminhada indicado nas placas começar a crescer novamente; eu achava que ia bem. Descobri a tempo que rumava para o lado errado, não oposto, mas perpendicular. Tornei a subir a rua até um cruzamento que identificasse no mapa; era o da New Oxford com a Charing Cross, que termina na Trafalgar Square. De volta ao rumo, segui.

Na mesma praça fica a igreja de St. Martin in the Fields, que mantém uma orquestra e apresenta vasta programação musical. Puxei conversa com a garota que distribuía panfletos para um concerto esta noite com Mozart e Händel no programa; ao receber o panfleto, disse-lhe que não poderia por ter um outro para ir; ela então me disse que poderia então assistir o recital daquele momento: foi até a entrada da igreja e voltou orientando-me a esperar o término da primeira peça e entrar para a segunda. Foi o que fiz. Tratava-se dum recital de piano duma série dedicada a jovens músicos do mundo. Começava a segunda peça, 3 Mazurkas, de Chopin, com o pianista Konstantine Lapshin, da Rússia. Aproveitei para atualizar estas notas ao som de Momentos Musicais 3, 4, 5 e 6, op. 16, de Rachimaninov. Eu estou sentado bem atrás da coluna e não posso ver as mãos do pianista; uma senhora e uma jovem a a meu lado foram para a escada para verem melhor - creio - e conseguiram, em Estudos, op. 8, n 12 em D#m, de Scriabin, a última peça do programa. São 13:50h, mais ou menos. Agora, National Gallery, Trafalgar Square.

  1. The Chair, 1888.
  2. Farms Near Auvers, 1890.
  3. Sunflowers, 1888.
  4. Long Grass with Buterfflies.
  5. A Wheatfield with Cypresses, 1889.
  6. Two Crabs.
São os quadros de van Gogh.

Pela segunda vez na National Gallery, vim direto a van Gogh, de cujas seis telas, cinco estão na mesma parede, perpendicular à que porta "Two Crabs". Nesta segunda visita tive a mesma reação da primeira, ainda considerando que há na sala obras de Cèzane, e de Manet, Monet e impressionistas, mais Degas na sala ao lado. Talvez eu precise voltar aqui para me emocionar assim.

Fui ver Jan van Eyck. Voltei para ver Girassóis mais uma vez. Vale. Depois de ver mais uma vez e não chorar (finalmente), acho que preciso comer.

Entrei num mercadinho de indianos na Crossing St. e pedi uma marmita (2.30 libras), com grão-de-bico e vagem, um arroz com açafrão e um cordeiro picante. Como todo mundo, comi sentado nas escadarias da Trafalgar Sq. em frente à National Gallery.


(*) Eu não sei se só escrevi errado ou se estava realmente indo para o British Museum, embora pensasse ir para a National Gallery. Está assim no manuscrito.

Londres, 27 de fevereiro de 2009 (II).

Fui para a exposição de Picasso (12.50 libras) e comprei o guia sonoro (3.50). Comecei a seguir a exposição chegando a visitar três salas. Estava na terceira quando anunciou-se nos fonoclamas um defeito na rede elétrica pedindo-se a todos que evacuassem a galeria e fossem para a área pública mais próxima. Saí e tirei fotos de Anita, um moça húngara que reproduzira uma pintura no chão. Desci a Whitehal St. e entrei numa transversal que me levava bem para a frente do London Eye. Já eram 18:15h e eu precisava ir ao Barbican Centre para o concerto de Nelson Freire. Aproveitei para atualizar estas notas (1). Talvez seja bom fazê-lo com as dos dias anteriores(2).

Pouco antes da execução da primeira peça sentou-se do meu lado esquerdo uma daquelas pessoas que conversa com desprendimento. Perguntou-me quando estivera lá pela última vez; - Ontem. - respondi; rimos. Ela me contou que sua última vez fora há 16 anos. Teceu alguns comentários que não entendi muito bem. Antes que prossiga, o concerto está sendo gravado (3).

Enquanto conversávamos e eu tomava estas notas, ela me perguntou em que língua escrevia. - Portuguese. - respondi. Falou algumas coisas e me contou ser especialista em sons (em fonética, creio). Quando contei-lhe ser brasileiro... peraí, Nelson Freire.

(...)


- Portuguese is the romance language that I understand the least.

(...)

Nelson Freire tocando o Concerto n. 2 em Fá menor para piano e orquestra. Eu estou muito feliz.

Eu não vejo o teclado, mas eventualmente, o reflexo de sua mão direita e acionar dos pedais.

Quando vi o regente, assinalei no programa "muito jovem". Li-o e vi que tem 23 anos: um prodígio.

Só na volta ao hotel retornei a estas notas; vamos a elas. Depois do concerto conversei um pouco mais com a senhora que me confirmou ser especialista em fonética. Ela me deu um cartão seu onde vi que se chama Ellen Mirian Pedersen e, a julgar pelo endereço, é dinamarquesa. Pedi mais um de seus cartões, escrevi meu nome e a frase "Prazer em conhecê-la." Despedimo-nos.

Estava decidido a voltar ao Soho, não só considerando a possibilidade de reaver nossas camisetas esquecidas no domingo, mas sobretudo para aproveitar a noite. Tomei o metrô em Barbican e , munido do mapa, saltei em Tottenhan Court. Conferi o endereço no mapa e encontrei a Frith St., aonde fora. A fila na entrada do Ronnie Scott estava maior do que no domingo, o que me fez resolver circular, tanto para reconhecer o ambiente como para esperar diminuir a fila. Percorri as três ruas: Greek, Frith e __________________ (4), até que resolvi entrar no Three Greyhounds, (um pub) que parecia animado. Perguntei pela cerveja mais forte que era uma cujo nome não guardei (5) - havia subscritos com letras cirílicas -, mas que tinha 5% de álcool; custou 3.50 libras o pint.

Voltei ao Ronnie Scott e perguntei ao segurança pelas sacolas que esquecêramos, ele me pediu que esperasse, o que me deu esperança. Depois, chamou-me para entrar e esperar mais um pouco no acesso à escada (e deixar o caminho livre, ora). Quando passou a gerente, ela me perguntou se precisava de algo, o segurança interveio e, antes que concluísse, ela completou - ... from Tate! - eu abri um sorriso. Esperei alguns instantes e ela me trouxe as duas sacolas "grampeadas" - acrescentou com ênfase, a moça. Foi bala, isso!

Dei mais uma volta pelo Soho e os bares estavam fechados porque já passava da meia-noite. Havia algumas danceterias (night club), inclusive uma de strip tease, das que são fully licensed e funcionam até as 3 da manhã. Entrei nalguns bares, mas todos "fechados" (abertos, sem vender). Resolvi voltar "pra casa".

Cheguei na estação Tottenhan Court e fui um dos últimos a entrar (eram 12 e pouca da noite). Ao sair em Queensway dei mais uma volta e nenhum estabelecimento vendia bebida alcoólica, mesmo os de 24h. Voltei para o hotel, onde o bar estava aberto. Pedi um pint de Kronenbourg e atualizei estas notas. Foi um bom dia, hora de me recolher. Vale.

(1) Já no Barbican Centre.
(2) Anteriores a 26 de fevereiro.
(3) Nelson Freire e Orquestra da Rádio BBC.
(4) Está assim no manuscrito, esqueci-me de conferir o nome da rua na hora.
(5) Staropramen (http://www.staropramen.com/), cerveja tcheca.

sábado, 25 de abril de 2009

Londres, 26 de fevereiro de 2009.

Acordamos às 3:00h da manhã em Nottinghan depois da noite quase não dormida. Devido ao concerto do Metallica chegamos ambos agitados ao hotel, e por mais que tentássemos, não mais do que dormitamos.

Não havia alguém na recepção para receber nossa conta, podíamos ter ido embora, mas tocamos a campainha para alguém nos atender. O cara veio e não cobrou as seis garrafas d'água mas somente o quarto.. Ele nos chamou um táxi e fomos embora para a estação de trem.

Roberto iniciou uma conversa com o taxista contando-lhe que éramos brasileiros e ele respondeu sorridente sobre sua vontade de "ir lá", acrescentando que era paquistanês. Prosseguindo, disse que ouvia-se falar muito do nosso vizinho de porta, Chávez, e falou sobre seus discursos na ONU. Roberto entendeu se tratar de Lula e os dois se divertiram muito, cada um com seu presidente. Ao chegar na estação, pagamos e nos despedimos. Ele prolongou um pouco mais a conversa e nos contou ser da Caxemira paquistanesa, pedindo-nos que mandássemos lembrança se encontrássemos algum conterrâneo seu no Brasil.

Chegando às 4:10h à estação, esperamos o trem até às 4:51h. Pela primeira vez estava frio. Chegado o trem, entramos e seguimos para a baldeação na estação seguinte, e aí sim, para Londres. O trem foi se enchendo nas estações seguintes e chamava atenção o silêncio das pessoas. Abri os olhos algumas vezes para ver a paisagem, em vão, ainda estava escuro. O dia amanhecia muito ao sul, no rumo do trem, por volta das seis da manhã.

Eram quase sete e estávamos em Londres. Enquanto todos iam para o trabalho nós íamos para o hotel, estávamos quebrados; acabamos dormindo até o meio-dia. Acordamos e, depois dos trâmites de mudança de quarto, saímos para almoçar num restaurante indiano que encontramos na Queensway. A comida estava excelente.

Tomamos o metrô para Southbanks indo para a "London Bridge e "Torre de Londres". Passamos pelo HMS Belfast, cruzador que lutou na Segunda Guerra Mundial, tendo participado da Batalha da Normandia; o navio estava fechado à visitação pública, então seguimos para a ponte.

Atravessamo-la, tiramos algumas fotos, fomos até a Torre. Rodeamos a fortaleza, vimos algumas coisas, passamos o tempo e já era hora de Roberto voltar ao hotel para fechar a conta, pegar suas coisas e seguir para o aeroporto. Eu precisava ir ao Barbican Centre para comprar o ingresso do concerto de Nelson Freire no dia 27 de fevereiro. Despedimo-nos e fomos cada um para seu lado.

No Barbican, resolvi assistir também o concerto daquela noite, com a London Simphony Orchestra e a violinista Midori, o que, aliás, foi muito acertado. - As pessoas são muito bonitas aqui - pensei quando vi Martina mais uma vez, uma recepcionista do Barbican. Em Londres é grande o risco de erro quando se diz "os ingleses" ou "os londrinos", é-se mais preciso dizendo-se simplesmente "as pessoas"; pois bem: as pessoas têm expressão de paz, por isso são bonitas. Comprei este Moleskine por 9 libras (isso mesmo!) e iniciei estas notas. Escrevi um pouco antes do concerto, mais um pouco no metrô no retorno a Queensway. Antes, um comentário sobre o concerto: foi magnífico, inesperadamente.

Saltei e quis comer alguma coisa. Há muitos restaurantes na rua, mas eu queria algo mais rápido. Andei até o fim e voltei e fiquei curioso pelo kebabe do Taza. Comi um com shawarma de cordeiro, na rua mesmo; comprei uma Coca-Cola 600ml (1.16 libras) e tomei mais da metade. Finalmente cheguei ao quarto e, além da higiene corporal, decidi-me por planejar o dia de amanhã, o que farei tão logo termine estas notas.

Por falar em planos, esta viagem estava fora, mas, decidindo-me por ela, senti-me livre para imaginá-la. É bem diferente e eu estou muito feliz (nada posso afirmar sobre o que sentiria se fosse como a imaginara). Eu estou feliz. Agora, o dia de amanhã. Vale.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Sobre Tipos de Pessoas, Pessoas Próprias e Pessoas Alheias a Outras

As pessoas são diferentes. Há vários tipos de pessoas e cada uma se afina mais com uma coisa do que com outras. Trivialidades à parte, isso acontece harmoniosamente e estabelece a completude do mundo.


Além de diferentes, as pessoas não são únicas. Uma personalidade encontra existência em mais de uma pessoa, sendo que as de cardinalidade maior do que um constituem-se naquelas outras expressões da primeira personalidade. Para exemplificar, imagine-se que uma pessoa compreenda sua própria existência como única; pois, para ela, há, inexoravelmente, pelo menos mais uma que expressa a mesma personalidade, ainda que não primariamente. Trata-se pois duma segunda cardinalidade duma personalidade ou, simplesmente, duma outra pessoa que é a primeira.


Assim, pode-se enunciar formalmente o fato como se segue. Seja você e sua personalidade primária, a qual, por definição, tem cardinalidade igual a 1. Há pelo menos mais uma pessoa com a mesma personalidade, cuja menor cardinalidade é 2. De maneira mais simples, pode-se dizer que outra pessoa pode ser você. Isso, inclusive, admite o caso particular de a "sua" personalidade ser mais original na outra pessoa do que em si próprio. Mas, como eu disse, trata-se dum caso particular. O mais interessante dessas outras pessoas que são você é que a sua personalidade nelas independe completamente da mesma em si próprio, o que confere multiplicidade a uma mesma personalidade. Não se trata pois de repetição, replicação, muito menos reprodução ou imitação, mas sim de multiplicidade de uma mesma existência. Disso, precisamente, decorre a existência de tipos singulares de pessoas diferentes.


Como eu disse no início, as pessoas são não só diferentes, mas de "tipos" diferentes. Muito bem: num mundo de uma imensidão branca, um dia uma garotinha passeava com sua mãe, com quem conversava loquazmente. Ao ver a diversidade de pessoas na rua, comentou: - As pessoas são muito diferentes, né, mamãe... - ao quê a mão respondeu desinteressadamente - É, minha filha. Prosseguiram, até a menina exclamar:
- Veja, mamãe! uma pessoa que só é olho: uma pessoa visual!!!
- Um oculantropo, minha filha - corrigiu a mãe. Prosseguindo, explicou -A pessoa que só é olho é um tipo tal que só é um olho, cujo pensamento é seu próprio olhar, seu "ver o mundo" encerra sua existência e pensar próprios. Ainda caminhando, a garotinha prosseguiu:
- Veja, mamãe! uma pessoa que só é nariz, uma pessoa nasal!
- Um rinantropo, filhinha - corrigiu-a mais uma vez a mãe e tornou a explicá-la - que é aquela que não é outra coisa senão somente um nariz e nada mais. A pessoa do tipo que é somente nariz simplesmente respira e inala os odores do mundo para se comunicar.
E mais adiante,
- Veja, mamãe, uma pessoa que só é orelha, uma pessoa auditiva!
- É um auriculantropo - corrigia, já dando sinais de impaciência.
- Veja, mamãe, uma pessoa que só é casa! como se chama uma pessoa que só é casa, mamãe?
A mãe se surpreende com o fato, o que lhe dá um pouco mais de motivação para seguir com a conversa. Sem responder à pergunta da menina, ela, contudo, alimenta o diálogo:
- Uma pessoa que só é casa é um tipo de pessoa que é uma casa flutuante no ar na forma da consciência de uma pessoa -, o que a menina não entende imediatamente. E, antes que tentasse prosseguir, a menina surpreende-se ainda mais com o que vê, exclamendo quase histericamente.
- Veja, mamãe, uma pessoa que é uma cadeira! - e não consegue dizer mais nada, catatônica diante da pessoa que só é uma cadeira.


Uma núvem de lúmenes envolve a criança que se transforma instantaneamente num suco de laranja e sai flutuanto pela praia de Copacabana rumo ao infinito. A pessoa que só é cadeira se transforma na menina, para alegria da mãe, que nem pudera afligir-se pela rapidez dos acontecimentos. Com sua filha de volta, a mãe volta a seu estado de paz, concluindo que a cadeira é a outra pessoa que é sua filha, e o suco de laranja é outra pessoa na forma circunstancial da sua filha, numa personalidade de cardinalidade ainda maior do que 2.

sábado, 11 de abril de 2009

Eu Converso com a Secretária Eletrônica

É a melhor secretária que há. Gentil e eficiente, nunca se esquece de passar os recados aos chefes. Sempre que telefono para alguém e ela atende, espero sua saudação para deixar a minha mensagem. Realmente me agrada que ela não me interrrompa enquanto falo, e saber ouvir é uma qualidade que eu aprecio. Reciprocamente, procuro ser preciso em minhas palavras, mesmo que deva me delongar um pouco para tal.

As minhas mensagens são completas, parece até que falo sozinho, mas não. A secretária sempre espera que eu termine, salvo quando passa de um minuto minha fala, pois devem ser muitos os seus afazeres e, reconheço, ela não é a minha secretária, por cuja razão em si não está a meu inteiro dispor: padrão e critério são indispensáveis ao bom trabalho, concordo.

Eu realmente gosto de falar ao telefone com a secretária eletrônica. E, quase tanto quanto, também com as moças do telemarketing ativo, mas isso já é assunto para outra crônica.

domingo, 29 de março de 2009

All your trip

It is exactly this: Yahoo or MSN messenger. I rather suggest MSN because I already have it installed on my PC. If you choose Yahoo, I´ll have to install it also. Installation is not a big deal, but as I don´t like Windows and my Linux is not configured to use internet, I preffer not overfull th HD with many softwares. To give you an idea, I don´t even have the Office package (Word, Excel, Power Point, etc) installed. Therefore, I recommend you install an MSN.


The second step: how? If you preffer in portuguese, go to http://imagine-msn.com/Messenger/default.aspx?locale=pt-br and click on "Instale já" (Install it now); to get it in English, go to http://imagine-msn.com/messenger/default2.aspx?locale=en-us and click on "Get it free" (obtenha-o grátis). When you order it, it instructs you on what to do, you just need to follow the instructions. To be able to use it you must have an e-mail account on Hotmail or on MSN. I think you can do it after install it. If you create your account before, it is able to reconize your address and to use it automatically.
Well, let us talk about a weakness I have: planning trips. I am not used to travell so that I have difficult to figure out where to go and what to do. But furtunatelly I have got good friends who are used to such a travels and already gave me good hints. Here they are. One is to go by plane to São Luís, the nother Northeast capital and then return to southern Northeast capital and other cities by bus until Recife, where we would take a plane again to return to Rio de Janeiro. Other options is go to Salvador, spend few days there and then go or to some distant beaches, like Imbassaí or Morro de São Paulo or go to the interior of Bahia state, to Chapada Diamantina and spend one week there. I should warn you that it will be winter here. The temperature will be the last problem you can possibly find, but In Salvador and Northeast reagion coast, winter is the rainy station and rain does not match with beach. So, we need to take the rain into account.


A third possibility, and this, due to its heterodoxidity (is it?), diserves a separated paragraph. Its a trip to the south region, where there is a strong european influence, people is much lighter and everybody has an italian or a german surname, very different from the rest of country. There are some cities on the hills who explores a "winter tourism". In this region, temperatures should really be taken into account because it reaches to 0 degrees and even lower ones. Of course it exists another good possibilities, but let us deal firstly with this. As you will buy a travell guide, perheps you find a good suggestion. Since you are used to trips - and what a long trips - you can analize more suitably and find some other good idea. Or, perhaps, some really good idea.


Now, to some more imediate practical procedures, but a small window to a minor digression: have I told that I am an industrial instrumentation technitian too? Wow, this message looks a manual! But, let us return to the manual. When you arrive, you may realize very quickly that mass transportation is a huge problem in our society. There is not a subway line to the airport. The air port is 20 km from Downtown, approximatelly the same from Copacabana (you spelled right). You can both take a taxi or take a bus to Copacabana. The bus does a longer way and, if there not be any traffic jam, you will spend from 40 to 50 minuts from the airport to Copacabana. If you take a taxi, you can choose a shortcut and, regarding the traffic, arrive in the hostel in 20 minutes. This is what I usually do. The regular price is around R$35,00 or U$ 14.00. There are special taxis wich are much more expensive. Even the regular taxi (the yellow with a blues range) sometimes want to charge more. What I usually do is going to the boarding terminal and take a regular taxi that is bringing somebody and adk the the drive to go by the "taximeter". Anyway, don´t pay more than 50 reals!!!


And if your immertion is by watching brazilian movies, just one thing: don´t try to watch portuguese ones, they have a very strong accent and different vocabulary: nothing against it, but it won´t help you very much, our speaking is very different. Or, maybe there is a good idea in this fashion: watching "Língua: vidas em português". I may have told you about this movie, which is actually a documentary about portuguese language. I though it beaultiful and it is possible to realize how different are brazilian and other countries accents. They are more similar amongst themselves.


And I just need to be sure which is the earliest date from which I can take vacation. I think is July, 1st. I´ll check it tomorrow.

And how are you? ;-)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma Lacuna


A lacuna d'alma é onde nada mais cabe antes do amanhã, senão o silêncio. Que fique bem claro ser este um dos poucos textos confessionais até o final dos tempos, a menos que mude a história. Assim hei dito.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Ao Obelisco

Emerge sob a chuva
Um Obelisco cor-de-brasa
Qual pardez, sua candura
Qual beleza, sua casa

Floresce sob a chuva
Cresce e se agiganta
Em verdade, a flor madura
Guarda, abraça, acalanta

O fosso, o passo, encurta
A força, o salto, amplia
E o dia, por fim, é pleno

Sob a chuva, o Obelisco
Repousa, lindo e sereno
E torna pleno este dia.

(Salvador, 08 de abril de 2000.)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Era Você de Costas



Não era você. Há uma moça, em Botafogo, cujo porte, o cabelo e sobretudo os trejeitos se parecem muito com os seus. Mas pude vê-la de frente na semana passada e constatei se tratar de outrem. De rosto, por sinal, não tem qualquer semelhança.
Beijo e Feliz Natal.

Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 2005.